Não é de hoje que os brasileiros e brasileiras tem migrado cada vez mais para o trabalho remoto, ou em inglês “Home Office”, a facilidade de realizar o trabalho dentro de casa, a redução dos custos com deslocamento e a eclosão da pandemia, são alguns dos elementos mais importantes e motivadores para essa transformação no mercado de trabalho. Contudo, a conjuntura econômica do país não só tem sido determinante para essa mudança, como tem colocado milhões de brasileiros na informalidade e forçando a se adaptarem a nova situação.
De profissionais da área da saúde como psicólogos e pediatras, passando pela educação e pelo meio jurídico, não tem sido incomum encontrar pessoas que passaram a ter contato pela primeira vez com o trabalho remoto. De um lado essa nova tendência abre espaço para ampliação de um mercado promissor ligado as novas tecnologias da informação e ao empreendedorismo digital, por outro lado, no entanto, acaba reforçando a hipertrofia do setor terciário e o aumento da informalidade no Brasil.
Como assim?
A hipertrofia do setor terciário é o aumento exagerado da mão de obra de um país no setor de comércio e prestação de serviços principalmente, situação muito comum em países que passaram e estão passando por forte incrementação de novas tecnologias no campo, o que acaba ampliando o desemprego estrutural nesse setor, já que as máquinas tendem cada vez mais a substituir o trabalho humano. Aliado a isso, temos o fato de o Brasil apresentar de forma contínua um crescente processo de desindustrialização, optando cada vez mais pela importação de manufaturas, essa realidade contribui para o aumento do desemprego e para migração de parte da mão de obra para o setor terciário.
Motoristas de aplicativos, profissionais da gastronomia, moda e confecções, e toda espécie de trabalho que tenha surgido nos últimos anos nessa lógica, onde o prestador de serviço e o cliente não precisem necessariamente estarem no mesmo local, acabaram tornando o setor terciário mais atrativo para a maior parte da mão de obra no Brasil. O grande problema é que muitos desses profissionais migraram para o setor de comércio e serviços, remoto ou presencial, não por uma opção ou escolha bem planejada, mas sim, pela situação de baixa oferta de emprego no Brasil, onde muitos desses trabalhadores atuam sem nenhum tipo de proteção social (INSS, carteira assinada…).
A não realização do censo demográfico em 2020 contribuiu para o aumento da especulação quanto a real situação econômica e social do Brasil. Baseando-se principalmente em estimativas elaboradas pelo IBGE, o diagnóstico preciso da situação do mercado de trabalho no Brasil ainda gera muitas incertezas quanto ao futuro, pois não se sabe exatamente o quanto essa informalidade impacta na vida econômica do país, e o nível de exclusão gerada pelo fato de nem todos ainda conseguirem se inserir no trabalho remoto por falta de acesso à internet ou de equipamentos necessários para atuar em Home Office.
Deixe seu comentário.