Na unidade da rede de supermercados Extra, situada no Jardim Ângela, na zona Sul de São Paulo, uma cliente denunciou a empresa que decidiu entregar bandejas vazias de carne aos clientes até que o valor do produto seja pago no caixa. Somente então o cliente poderá retirar a carne no açougue do supermercado, mediante a apresentação do cupom fiscal.
A denúncia foi feita pela ativista Fabiana Ivo, que alegou que a prática é adotada em unidades do supermercado Extra situadas em bairros nobres da capital paulista, como na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, próximo à Paulista. A cliente conta que foi surpreendida após fazer a compra de uma carne bovina e receber a bandeja embalada e etiquetada, mas vazia.
Na ocasião, ela foi informada que poderia retirar a carne somente após pagar pelo produto no caixa. A mesma situação foi vivida por Roberto de Oliveira, um outro cliente do supermercado de Jardim Ângela. O homem disse que, apesar da surpresa, reconhece que “tem tanta coisa bizarra aqui que a gente vai, infelizmente, se acostumando com certos absurdos”, declarou.
Para o homem, é comum a imposição deste e tantos outros tipos de violências que, com o passar do tempo, o público atingido acaba perdendo forças para debater. Neste caso em específico, a ativista Fabiana Ivo conta que chegou a questionar uma funcionária do supermercado sobre a medida adotada, a qual justificou que era para evitar roubo. Fabiana vê essa ação como uma afronta à comunidade periférica.
Em nota à imprensa o Extra declarou que o procedimento não condiz com a política de atendimento da empresa e que já entrou em contato com a loja em questão para que a prática fosse cessada. Segundo o extra, trata-se de uma conduta inaceitável, porém é uma “falha pontual de procedimento”.
Contudo, há relatos de que a prática continua em unidades como do Cambuci, Piraporinha, Avenida Cupecê, Cohab 2, Belenzinho e Itapecerica da Serra. As administrações alegam que é uma maneira de prevenir a desistência da compra ou em casos mais extremos, furtos.
Em meio a esta prática, há quem realmente passa por dificuldades e enfrenta a falta de comida na mesa em casa. A insegurança alimentar já atinge 19,1 milhões de brasileiros, de acordo com um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
O levantamento indica que o equivalente a 9% da população brasileira se enquadra no perfil dos cidadãos que passam fome atualmente. A pesquisa foi realizada em dezembro de 2020 em 2.180 domicílios das cinco regiões do país, abrangendo o perímetro urbano e rural.
Enquanto isso, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, uma mãe que pegou comida sem pagar para alimentar os filhos deixou um bilhete. O acontecimento se passou em um trailer intitulado de “Sr. Honestidade”, situado na BR-470. Em atividade há dois anos, o negócio funciona na base da confiança, onde as comidas ficam expostas sem nenhuma supervisão. O pagamento deve ser feito em dinheiro em uma caixinha no local.
No bilhete a mulher diz: “Olá, eu vim através desse bilhete informar que peguei algumas coisas para o café com meus filhos, mas não vou roubar. Quando eu tiver, prometo devolver. Obrigada. A.C.P”.
Para o presidente da Associação Beneficente Filantrópica Vida Nova, Renato Lagatta, trata-se de uma atitude honesta que condiz com o propósito do trailer. Enquanto isso, outra situação chamou a atenção. Trata-se da carta de uma pessoa que deixou um pagamento de R$ 120 para um pão. Este outro bilhete diz que o restante do dinheiro deve ser usado para alimentar quem precisa, promovendo uma rede de amparo mútuo.