Diante do novo surto de Covid-19 provocado pelo surgimento da variante ômicron da Covid-19, várias cidades brasileiras decidiram cancelar o carnaval de rua. Porém, embora a decisão tenha sido tomada como uma atitude restritiva à propagação do vírus, os setores de comércio e turismo sofrerão os efeitos devido a não realização das festividades.
O cancelamento do carnaval de rua tem sido visto como uma espécie de banho de água fria para os setores de comércio e turismo. Conforme apurado pela reportagem do Brasil 123, até a última sexta-feira, 7, as principais capitais brasileiras já haviam anunciado o cancelamento das festividades. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Distrito Federal e Olinda.
Enquanto isso, várias pousadas também relataram o cancelamento de reservas. Já os bares e restaurantes prevêm o faturamento reduzido, assim como as lojas de fantasias e adereços, que já estimam os prejuízos. De acordo com o parecer do presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio, a queda estimada é de 20% a 25% apenas no faturamento desta data festiva se comparado ao período pré-pandemia.
“Os preços vão cair e ainda assim é possível que a gente não consiga uma boa ocupação. Estamos preocupados, principalmente onde tem muito turismo de folia, como Salvador e Rio de Janeiro”, alegou o presidente. Neste sentido, a Pousada Villa Tropicale, situada em Salvador, já sente os reflexos da decisão. Isso porque, logo no dia seguinte à suspensão do carnaval de rua na cidade, seis dos sete pacotes fechados para a data foram cancelados, todos de turistas da Argentina e do Chile.
Ao analisar o período pré-pandemia, a pousada conseguia atingir a lotação total já nos primeiros dias de janeiro. De acordo com o proprietário da pousada, Giuseppe Cavaliere, dentro do período de três semanas, a busca por reservas teve uma queda de 90%. Diante do receio em permanecer com a ocupação baixa durante o feriado, a pousada decidiu oferecer descontos de até 50% nos pacotes de hospedagem.
Cavaliere aproveitou para informar que, conforme o tempo passar e se a data se aproximar, se os quartos continuarem vazios, é possível colocá-los sem o preço especial de Carnaval. Enquanto isso, o Hotel 7 Colinas, situado no centro histórico de Olinda, bastante procurado por quem gosta de comemorar o carnaval de rua nas famosas ladeiras, também já sente o impacto da decisão anunciada pela cidade na última quarta-feira, 5.
No entendimento do gerente-geral, Jhonata Mendes, a queda prevista gira em torno de 50% nas reservas para o feriado. Ele conta que antes mesmo da confirmação por parte da administração municipal, já se esperava uma lotação bem abaixo de 100%, pois a população já estava receosa quanto à disseminação do vírus. “Já estávamos com 60% das reservas fechadas para o Carnaval, e esperamos que esse número caia para 30% nos próximos dias”, afirmou Mendes. Ele inclusive, estuda a possibilidade de reduzir os valores dos pacotes com o propósito de atrair novos clientes de última hora.
Já o setor de comércio também começou a sentir a falta do carnaval de rua, como em Saara, no Rio de Janeiro, e na 25 de Março em São Paulo. Segundo o presidente da Saara, Eduardo Blumberg, a retração pode variar entre 30% a 40% em comparação com a receita do mesmo evento em 2020.
O impacto será ainda maior entre as lojas que comercializam adereços para o carnaval, como o Clube de Festas. Já na capital paulista, após o cancelamento da festa na última semana, o comércio popular da 25 de março deve registrar uma queda de 50%.
A avaliação foi feita pelo diretor da União de Lojistas do polo, Marcelo Semaan. No que compete aos ambulantes, que são beneficiados por um pico de lucro nesta data, a suspensão da festa é vista como um “terror” pela diretora da União Nacional dos Trabalhadores Ambulantes em São Paulo, Valdina Silva.
“A classe sofreu muito nos últimos dois anos com a Covid-19, e não poder participar do carnaval neste ano vai ser um desgaste muito grande para os trabalhadores. Muitos já estão passando fome”, alegou.