Um grupo formado por senadores decidiu se articular com integrantes do Poder Judiciário com um objetivo claro: contrapor-se de maneira coordenada à estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) de questionar a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro usando as Forças Armadas como escudo para as suas investigas.
De acordo com informações da agência de notícias “Reuters”, a intenção, revelaram senadores, é defender as urnas eletrônicas e ainda impedir que discursos considerados golpistas ganhem terreno, garantido assim a democracia brasileira e o acontecimento normal das eleições, marcadas para daqui a cinco meses.
Conforme aponta a “Reuters”, senadores estão preocupados, pois acreditam que há a possibilidade de que aconteça, caso Bolsonaro perca as eleições, atos violentos parecidos com os registrados em janeiro do ano passado em Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump para Joe Biden.
Pessoas entrevistadas pela agência de notícias revelaram que conversas entre senadores e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começaram há um mês. De lá para cá, já houve resultados práticos dessas tratativas, principalmente em posicionamentos mais incisivos de autoridades.
Um dos reflexos vistos devido à mobilização foi a fala em um tom duro do presidente do TSE, Edson Fachin, na última quinta-feira (12). Na ocasião, em uma declaração fora dos padrões que costumava seguir, o presidente da Corte defendeu de forma mais enfática o sistema eleitoral.
“Quem trata de eleições são forças desarmadas, e, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que de maneira livre e consciente escolhe seus representantes. Logo, diálogo sim, colaboração, sim, mas na Justiça Eleitoral quem dá a palavra final é a Justiça Eleitoral. E assim será durante a minha presidência. A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais estará aberta a se dobrar a quem quer que seja”, disse Edson Fachin na oportunidade.
De acordo com a “Reuters”, senadores foram avisados previamente sobre a forma incisiva que Edson Fachin iria discursar. O presidente do TSE tem, inclusive, participado das conversas e dito que o Judiciário precisa da ajuda do Legislativo, pois não pode enfrentar sozinho os ataques antidemocráticos.
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