O Senado realizou nesta segunda-feira (12) debate em plenário sobre os reflexos da pandemia para a educação no país. Os especialistas convidados disseram que pesquisas constataram o prejuízo aos alunos durante o período. A ampliação do ensino integral é apontada como um caminho para a recuperação das perdas.
Na linha de estudos que estimam o impacto, o Banco Mundial prevê piora na capacidade de leitura e compreensão de textos pelos estudantes. Em um recém-lançado relatório sobre a situação na América Latina e no Caribe, a instituição estimou que o percentual de “pobreza de aprendizagem” no Brasil poderá subir de 50% (nível pré-pandemia) para até 70%, num cenário de fechamento das escolas por 13 meses. O indicador considera a proporção de crianças de 10 anos que apresentam graves dificuldades de leitura. Em outras palavras, alunos com idade para estar no 5º ano do Ensino Fundamental, mas que não conseguem entender um texto simples.
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Educação e ensino durante a pandemia
Segundo divulgado pelo Instituito Unibanco, os alunos dos países latino-americanos e caribenhos, em média, ficaram pelo menos 159 dias sem aulas presenciais no ano letivo de 2020. O resultado seriam perdas de aprendizagem, ou seja, estudantes aprendendo menos do que seria esperado numa situação de normalidade. Isso é o que indica outra projeção apresentada no relatório, tendo como referência o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Uma interrupção de dez meses de aulas presenciais na América Latina e no Caribe poderia elevar de 55% para 71% a proporção de estudantes de 15 anos com desempenho abaixo dos níveis mínimos de proficiência no Pisa − exame que avalia leitura, matemática e ciências.
No cenário otimista, a premissa foi de que, no ensino remoto, os estudantes aprenderiam o mesmo que no ensino presencial, contanto que realizassem as atividades escolares. No intermediário, o nível de aprendizagem estaria atrelado ao número de horas estudadas. Logo, haveria perda de aprendizagem, uma vez que a carga horária remota costuma ser menor que a presencial. Por fim, o pior cenário considerou que os estudantes não aprenderiam nada remotamente.
Para fazer as projeções, os especialistas do FGV EESP Clear adotaram como ponto de partida o nível de aprendizagem de um ano típico (antes da pandemia) e levaram em conta o período de suspensão das aulas presenciais (estimado em 72% do ano letivo). O estudo foi encomendado pela Fundação Lemann. Na opinião do diretor de Políticas Educacionais na fundação, Daniel de Bonis, ficou evidente que os problemas educacionais do país durante a pandemia seriam ainda maiores sem o ensino não presencial. Entretanto, para o retorno das aulas presenciais, é preciso levar em conta o contexto sanitário local.
Além disso, o estudo também apontou desigualdades. No cenário intermediário, por exemplo, as meninas teriam melhor desempenho que os meninos, principalmente em matemática, nos anos finais do Ensino Fundamental. Nesse segmento, assim como no Ensino Médio, o pior desempenho em português (leitura) e matemática foi estimado para meninos pardos, pretos e indígenas cujas mães não tenham concluído o Ensino Fundamental. Os melhores, isto é, os estudantes com menos perda de aprendizagem seriam as meninas brancas cujas mães completaram pelo menos o Ensino Médio.
Ensino e aprendizado no Brasil
No Brasil, como ainda não temos dados relativos à aprendizagem ou ao abandono, os poucos estudos divulgados captam algumas dimensões que podem ter efeito nesses indicadores. Um levantamento realizado pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em janeiro e fevereiro de 2021, com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Itaú Social, jogou luz sobre a realidade da escola pública no ano passado. Com dados de 3.672 secretarias municipais de Educação (dois terços dos municípios do país), o estudo mostra que 91,9% delas funcionaram apenas por meio de ensino remoto, enquanto 8,1% adotaram o ensino híbrido (atividades presenciais e não presenciais).
Luz no fim do túnel
Em contrapartida, a pesquisa também destaca que a pandemia pode ser uma oportunidade para que os sistemas de ensino se tornem “mais eficazes, igualitários e resilientes”. Uma das recomendações é focar nos segmentos mais desfavorecidos da população, ampliando o alcance e a qualidade do ensino remoto.
Não à toa, uma das recomendações de todos os estudos que estão identificando este problema é para que as políticas educacionais tenham especial preocupação com a promoção da equidade, com a aceitação do ensino a distância para os grupos mais desfavorecidos e a qualidade geral da aprendizagem remota. Esses fatores serão fundamentais para reduzir as perdas de aprendizagem e reduzir as desigualdades.