Os jogadores do Irã não cantaram o hino nacional nem comemoraram os gols feitos na Copa do Mundo realizada no Catar. Nas arquibancadas, muitos torcedores iranianos se solidarizaram com o movimento de protesto que abala o país há meses. Sendo assim, pode-se afirmar que, a estreia do Irã na Copa do Mundo contra a Inglaterra não foi apenas sobre futebol, muito bem jogado pelas duas seleções por sinal, mas também sobre a luta política que envolve a República Islâmica.
Entenda o conflito no Irã
O Irã está competindo na Copa do Mundo em meio a um grande movimento de protesto de mulheres que sofreu violenta repressão, deixando pelo menos 419 pessoas mortas, conforme o grupo iraniano de ativistas de direitos humanos que monitora os protestos. A morte de Mahsa Amini, 22, sob custódia policial no país, provocou tumultos em 16 de setembro após ser acusada de violar o código de vestimenta feminino, mostrando uma mecha de cabelo sob seu hijab, véu islâmico utilizado na cabeça.
Amini morreu três dias após o ocorrido. O Irã disse que a menina faleceu por motivos de doença, mas sua família afirma que ela foi espancada.
Manifestação dos jogadores
Antes das partidas internacionais, os jogadores iranianos costumam cantar o hino nacional com a mão direita sobre o coração. Desta vez, no entanto, eles permaneceram em silêncio, com os braços em volta dos ombros um do outro, o que levou a televisão estatal iraniana a mudar de close-ups dos rostos dos jogadores para fotos em grande angular do campo. Além disso, durante o jogo, os jogadores não comemoraram seus dois gols, o que se tornou comum no campeonato iraniano desde o início dos protestos contra as leis compulsórias e a falta de direitos.
Importante destacar que no Irã, as mulheres não podem assistir a partidas de futebol masculino. “Você sabe como é doloroso ser o maior fã de futebol e nunca ir a uma partida em 34 anos?” disse Afsani, de 34 anos, que viajou para o Catar para assistir à equipe masculina pela primeira vez. Afsani disse que chorou quando entrou no Khalifa International Stadium.
Manifestação dos torcedores
Muitos torcedores iranianos em Doha usavam camisetas e agitavam cartazes com o slogan do protesto “Mulheres, Vida, Liberdade”. Outros usavam camisetas com os nomes de mulheres manifestantes mortas pelas forças de segurança iranianas nas últimas semanas. Além disso, aos 22 minutos da partida, uma referência à idade de Amini quando ela morreu, alguns torcedores entoaram seu nome, mas o refrão rapidamente sumiu, substituído por “Irã”.
Em suma, outros torcedores, vestindo capas e mantos negros, usados por cima da roupa, obedecendo ao hijab, código de vestimenta do Islão, aplaudiram ruidosamente por sua seleção na Copa do Mundo. Muitos deles se recusaram a falar sobre a situação política, dizendo que não era relevante para eles.