À medida que os EUA e seus aliados intensificam seu compromisso armado com a Ucrânia, crescem as especulações sobre o destino do presidente Joe Biden. Embora a Casa Branca tenha se esforçado para dizer que os EUA não têm uma política de promover a mudança de regime na Rússia, não há dúvida de que salas de reuniões privadas discutem que os EUA querem que Vladimir Putin seja removido da presidência da Rússia.
Saída de Putin do poder?
Durante anos, muitos estudiosos sobre a Rússia argumentaram que a saída de Putin poderia desencadear instabilidade no país. Para eles, um novo líder precisaria consolidar o poder pode alimentar uma tendência nacionalista ou antiocidental, já existente na Rússia, de modo a aumentar o apoio público.
Desse modo, sem a capacidade de Putin de equilibrar as facções concorrentes da Rússia, as lutas internas da elite podem desencadear agitação política e violência, desestabilizando o país, sendo uma potência nuclear. Nessa linha de raciocínio, os críticos de Putin devem ter cuidado com o que esperam, uma Rússia sem Putin poderia, em tese, ser pior para o Ocidente.
Por dentro do fatos
Antes da invasão da Ucrânia por Putin, tal argumento tinha algum mérito, mas agora está enfraquecendo. Para justificar a guerra, Putin fomentou o nacionalismo sombrio dentro da Rússia. Sua propaganda convenceu muitos russos da legitimidade de sua campanha sem sentido de “desnazificação” na Ucrânia, tanto que alguns russos começaram a pensar que o assassinato de civis ucranianos era aceitável.
Putin fala abertamente sobre “traidores nacionais” e a necessidade de “expurgá-los” da sociedade. A repressão se intensificou e os russos começaram a relatar atividades “antipatrióticas” de seus concidadãos. Dias ainda mais sombrios podem estar à frente. Sendo assim, quanto pior a Rússia causar a Ucrânia, mais provável é que Putin recorra a ataques cibernéticos, armas químicas ou até mesmo nucleares para evitar uma sensação de derrota.
Voltando ao passado
Quando o líder mais antigo da Rússia, Joseph Stalin, morreu após 29 anos no cargo, uma luta pelo poder eclodiu sobre quem iria sucedê-lo. Nikita Khrushchev finalmente chegou ao topo, mas foi deposto em um golpe nove anos depois, após esforços de seus oponentes para derrubá-lo.
No entanto, apesar da incerteza da liderança durante esse período, as coisas melhoraram acentuadamente na União Soviética após a morte de Stalin. Além disso, a experiência da Rússia pós-Stalin tem relevância para a compreensão da dinâmica da Rússia hoje, já que a dinâmica política das autocracias mudou significativamente desde o fim da Guerra Fria, incluindo a forma como os ditadores vêm e vão.
Em outras palavras, observando as mudanças de liderança de líderes autocráticos de longa data após a Guerra Fria, vemos que grandes golpes e protestos não são mais prováveis após esses líderes deixarem o cargo do que durante seu tempo no cargo.
Mudança de regime pode ocorrer com a saída de Putin?
Para ser sincero, tudo leva a crer que o autoritarismo russo provavelmente persistirá depois de Putin. Muitas das vezes os mesmos regimes autoritários permanecem intactos, como em Cuba depois que Fidel Castro se aposentou em 2008 ou no Zimbábue após o golpe que derrubou Robert Mugabe em 2017 após 30 anos no poder. Em outros países, como Ruanda, novos regimes autoritários surgiram após a derrubada de Juvénal Habyarimana em 1994. Na verdade, tais regimes autoritários se tornaram ainda piores depois que os líderes de longa data foram embora.
Na maioria dos casos, em ambientes assim, a democracia foi sufocada, através da eliminação da oposição, silenciamento da sociedade civil e esvaziamento das instituições, criam um ambiente totalmente hostil. No entanto, as chances de mudança de regime seriam maiores se Putin saísse através de protestos em vez de um golpe. Isso porque quando os protestos derrubam um líder, a transição é geralmente acompanhada por uma substituição mais significativa da elite dominante do que outros modos de transição, como golpes.
Em suma, mesmo que a democracia não tenha surgido imediatamente, o registro histórico mostra que a repressão tende a se espalhar nos anos seguintes à queda de líderes ditatoriais de longa data.