Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada nesta terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda média do trabalhador brasileiro encerrou o ano de 2022 em R$2.715. Tal valor é 1% menor que o registrado em 2022, quando a renda média havia atingido o patamar de R$2.743. Desde o início da pandemia, a renda do brasileiro vem diminuindo cada vez mais, de 2020 para 2021, a queda havia sido ainda maior, de 7%.
Contudo, um bom indicador é que, no quarto trimestre de 2022, a renda média dos brasileiros aumentou em 1.9%, chegando ao valor de R$2.808, no entanto, o valor é ainda menor que o nível pré-pandemia. Nos três primeiros meses, os brasileiros ganhavam em média R$2.853 mensais.
Queda na qualidade do emprego piora pagamento aos trabalhadores
Ainda que o desemprego tenha caído para a menor taxa desde 2015, 9,3%, o mercado não vem repondo o salário dos trabalhadores. Segundo especialistas, desde a reabertura econômica após o período mais restritivo da pandemia, a qualidade do emprego piorou, o que também deteriora o valor pago aos trabalhadores.
“Nos dois últimos anos, é possível visualizar um crescimento tanto do emprego com carteira quanto do emprego sem carteira. Porém, é nítido que o ritmo de crescimento é maior entre os sem carteira assinada”, disse a coordenadora da pesquisa PNAD, Adriana Beringuy.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lucia Garcia, acredita que o poder de barganha dos trabalhadores foi perdido nesse período de pandemia. “Tivemos uma perda nos rendimentos muito grande durante o período pandêmico, quando o mercado de trabalho se fechou diante do quadro que vivíamos. Houve uma queda na renda e uma perda do poder de barganha dos trabalhadores”, explicou.
Ainda, de acordo com a coordenadora, a geração de empregos atual “não garantem estabilidade para o trabalhador” e nem mesmo “garantem jornada plena, renda nem segurança institucional”. Isso significa que, embora a geração de emprego seja alta, os postos criados estão oferecendo salários menores do que os eram oferecidos no passado e com menor proteção ao trabalhador.
Alta da inflação piora situação dos trabalhadores
Para piorar a situação, a coordenadora do Dieese destacou que a alta da inflação é um agravante para a perda de renda dos trabalhadores. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta do IPCA foi de 5,77%. Nos últimos anos, a alta inflacionária chegou a ser ainda maior que em 2022.
“Então, além dos efeitos pandêmicos, é preciso considerar que também vivemos um grande período de inflação alta, de dois dígitos, que corroeu o poder de compra dos consumidores. E as variações discretas e modestas do rendimento do trabalho que apareceram nos últimos meses de 2022 até apontam para uma recuperação, mas o déficit ainda é muito grande”, afirmou Lucia Garcia.
Ainda, de acordo com a economista, “por mais que haja uma melhora das ocupações no ponto de vista estatístico, a renda só deve alcançar patamares melhores no final de 2023 ou no começo do ano que vem”, completou, ao falar sobre a expectativa sobre a renda média dos brasileiros.