Um relatório da Polícia Federal (PF) constatou que a falta de planejamento operacional da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal foi fundamental para que apoiadores radicais do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) pudessem, no dia 08 de janeiro, invadir e depredar as sedes dos Três Poderes em Brasília.
De acordo com o documento, divulgado pelo canal “CNN Brasil”, a omissão do coronel Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra, que na ocasião ocupava o cargo de chefe interino do Departamento de Operações (DOP), da PMDF, foi fundamental para que a invasão e depredação acontecesse.
No dia dos atos, Paulo José substituía o coronel Jorge Eduardo Naime, que estava de folga. Segundo a PF, seria do substituto a competência para elaborar o planejamento de contenção de possíveis invasores. “É verossímil acreditar que Paulo José agiu de forma omissa, frente aos crimes praticados no dia do evento, ao não elaborar o planejamento operacional do policiamento ostensivo do Distrito Federal”, afirma o documento da corporação.
Ainda no relatório, consta que, com base em relatos colhidos com integrantes da corporação, houve um intervalo de aproximadamente duas horas entre o início da manifestação e o acionamento das equipes de reforço para reprimir as ações dos radicais.
Na ocasião, a tropa da PM estava de sobreaviso por determinação do então subcomandante-geral, Klepter Rosa — atual comandante-geral —, a pedido do coronel Paulo José. De acordo com a “CNN Brasil”, uma mensagem mostra que a ordem para que os policiais militares ficassem de sobreaviso foi dada no dia anterior aos atos de violência.
“Senhores, boa noite. Por determinação do subcomandante-geral. Permaneçam de sobreaviso”, escreveu o coronel no grupo de WhatsApp que contava com a participação de comandantes operacionais e de batalhões. Por “sobreaviso”, entende-se a necessidade de policiais ficarem em casa esperando para serem chamados. O termo é diferente de “prontidão”, que é quando os agentes devem ficar fardados e armados nos batalhões prontos para sair.
Na semana passada, o ex-comandante-geral da PM, coronel Fábio Augusto Vieira, prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal e afirmou que não existia um plano operacional para os atos de 08 de Janeiro. Ainda conforme ele, a responsabilidade por essas ações de segurança era do coronel Paulo José.
“A cavalaria não havia sido acionada. Não havia parte logística. Não tinha comando móvel, que é onde o policial se apresenta para a missão. Não havia água para os PMs. Isso é uma falha. A falha é de falta de planejamento operacional. Nesse dia, era o coronel Paulo José”, disse o coronel, que chegou a ser preso suspeito de omissão nos atos, mas foi liberado após constatar-se que ele não estava atuando no dia do ocorrido.
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