A estratégia do presidente Lula em relação ao Banco Central parece ter mudado. Isso porque, agora, especialistas avaliam que o partido do presidente subiu o tom contra Roberto Campos Neto, atual presidente da autarquia. Nesta segunda-feira, 13, o diretório nacional do PT aprovou uma resolução que prevê a convocação do presidente do BC para dar explicações.
A ideia do governo é entender os motivos de o Banco Central manter as taxas de juros a 13,75%, uma das maiores da história do país desde 2012. Contudo, a medida é apenas uma recomendação, mas, em tese, a ideia será seguida pela base governista no Congresso.
Lula mira a independência do Banco Central
O presidente Lula vem atacando, de forma recorrente, a independência do Banco Central nas últimas semanas. Segundo ele, o projeto que trata do tema, aprovado em 2021, é uma “bobagem“. Com as declarações, o mercado financeiro subiu as projeções de inflação do país e passou a exigir mais juros para manter a dívida pública.
Isso porque, segundo especialistas, não é o Banco Central, sozinho, que estipula a taxa de juros. Isso porque é preciso entender que quem empresta o dinheiro exige um valor definido de juros, afirmam especialistas. Por isso, a autarquia poderia diminuir a taxa a qualquer momento, mas poderia ter como resultado a menor captação de dinheiro para financiar a dívida pública. Na prática, isso quer dizer que Lula teria mais dificuldades para financiar projetos importantes, como o próprio Bolsa Família.
Por outro lado, críticos do Banco Central afirmam que as taxas altas, estipulada pelo Banco Central, pesam no orçamento federal. Isso também é verdade. Vale lembrar que o Governo Federal, em 2022, pagou R$ 7,2 trilhões em dívidas federais, dos quais quase R$ 700 bilhões foram para juros da dívida de títulos que possuem como balizador a taxa de juros.
Além disso, estudos mostram que a cada ponto percentual a mais na Selic, a dívida aumenta R$ 50 bilhões por ano.
Subiu o tom
A base governista preparava um ofício em que faria um convite a Campos Neto, presidente do Banco Central, para dar esclarecimentos ao Congresso. Contudo, a mudança para uma convocação é ainda mais grave, dado que não pode haver a recusa do presidente da autarquia. Agora, com a aprovação do PT, o desejo do partido é enviar a pauta para uma votação de urgência na próxima terça-feira, 14.
Com isso, o partido do presidente, com seu aval, subiria o tom contra a independência do Banco Central. Em meio a esse cenário, o Governo Federal ainda tenta pressionar a entidade para aumentar a meta de inflação, o que também pode ser prejudicial para a economia do país.
Por outro lado, ainda não há perspectivas concretas de que a independência do Banco Central será revogada. Para isso, seria necessário diversas votações no Congresso para derrubar a medida, algo que parece improvável no momento, afirmam economistas.