A menos de duas semanas para o segundo turno das eleições, os eleitores enfrentam um obstáculo inesperado ao consumirem conteúdos na maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube, a veiculação de propagandas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro.
Desde o início do segundo turno, em 3 de outubro, o candidato à reeleição pelo PL gastou R$ 3,1 milhões em 415 anúncios políticos entre 18 e 20 de outubro, com vídeos na plataforma.
Reclamação dos usuários
A propaganda eleitoral de Bolsonaro realizou 309 anúncios no YouTube nos últimos três dias. Os dados são fornecidos através de uma página do Google sobre atividades políticas em sua plataforma, onde as estatísticas são atualizadas em tempo real.
Apesar do dinheiro gasto com propaganda eleitoral intensiva, os usuários da plataforma reclamaram em outras redes sociais. “Todos os vídeos que rodei hoje no YouTube tinham propaganda do Bolsonaro, sem exceção”, escreveu um usuário do Twitter.
“Está impossível assistir o YouTube sem se deparar com uma propaganda do Bolsonaro”, escreveu outro. No entanto, o atual presidente não está sozinho na adoção da estratégia, o ex-presidente Lula gastou R$ 1,7 milhão no mesmo período. Ele possui 432 anúncios no YouTube desde a segunda rodada, 197 dos quais foram postados nos últimos três dias.
Análise dos dados
Embora milhões de eleitores brasileiros não percebam, as poderosas técnicas de mineração de dados, frequentemente usadas por propagandas para personalizar anúncios políticos para usuários de plataformas como o YouTube, estão ganhando força.
A segmentação tornou-se tão precisa que os vizinhos que conseguem a mesma plataforma agora podem receber anúncios políticos diferentes, com base em suas redes sociais, filiação partidária, idade, sexo, raça, valores estimados de moradia ou hábitos de compra.
Além disso, as propagandas podem empregar esses dados para identificar eleitores preocupados com uma questão específica, como por exemplo, armas ou aborto, aprimorando mensagens na plataforma para eles. Desse modo, consultores políticos dizem que a capacidade de adaptar anúncios em vídeo para pequenas faixas de espectadores pode ser crucial para candidatos que enfrentam disputas acirradas, tal como Lula e Bolsonaro.
Evolução da propaganda eleitoral
Durante décadas, as propagandas eleitorais cobriram o mercado de transmissão local com anúncios de candidatos ou anúncios adaptados às tendências dos canais de notícias a cabo. Contudo, por meio dessa compra de mídia de massa, as propagandas estão empregando serviços avançados de perfil do consumidor e compra automatizada de anúncios para entregar diferentes mensagens de vídeo, adaptadas a eleitores específicos.
Em suma, os espectadores que assistem a um vídeo aleatório no YouTube, agora veem Bolsonaro ou Lula em suas propagandas eleitorais, que visam conseguir votos, principalmente dos eleitores indecisos, para o segundo turno das eleições, marcado para o dia 30 de outubro.