Nesta quinta-feira (20), o Ministério da Justiça entregou à Controladoria Geral da União (CGU) o relatório que mostrou as abordagens a ônibus realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na véspera e durante o 2º turno das eleições de 2022, compreendo o período entre 28 e 30 de outubro. Até então, o Ministério da Justiça era comandado pelo bolsonarista Anderson Torres, preso preventivamente por ser suspeito de sua atuação em relação aos atos golpistas ocorridas em 8 de janeiro.
Nesse sentido, o relatório entregue sobre as abordagens da PRF mostrou que foram fiscalizados 2.185 ônibus no Nordeste, região onde o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era franco favorito. Para efeito de comparação, na região Centro-Oeste foram parados apenas 893 ônibus, na região Sul foram 632 ônibus, Sudeste 571 ônibus e na região Norte, 310.
Os números do relatório foram apresentados pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, nesta quinta-feira, durante uma entrevista coletiva. “Temos agora a comprovação empírica de que houve um desvio de padrão em relação à atuação ordinária da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o período eleitoral”, afirmou Flávio Dino.
De acordo com o atual diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, a atuação da polícia foi “desproporcional” no Nordeste. Inclusive, a mobilização chegou a ser superior à utilizada durante festividades de São João, quando a corporação emprega maior efetivo. Para ele, a atuação da PRF foi “desproporcional”.
O relatório também trouxe os gatos utilizados pelo governo de Jair Bolsonaro com operações da PRF entre o primeiro e segundo turno. Foram R$7 milhões, sendo que os recursos previstos para a eleição eram de R$3,6 milhões. O gasto foi duplicado para reforçar as ações da corporação no segundo turno, mesmo que demandasse menor contingente devido ao menor fluxo de eleitores e números de candidatos.
Anderson Torres teria ido à Bahia pedir empenho de esforços em blitz
A Polícia Federal investiga se o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, realizou a tentativa de retardar o deslocamento de eleitores ao autorizar a operação da PRF. Inclusive, Torres teria ido pessoalmente à Bahia solicitar que a PRF se empenhasse em blitz, buscando ter retorno positivo na movimentação de eleitores de Lula até o local de voto.
O encontro para definir essas blitz foi feito baseado em um mapeamento de cidades onde o efetivo policial deveria ser reforçado. Sendo coincidência ou não, as cidades escolhidas para reforço policial eram as mesmas em que Lula recebeu mais votos no primeiro turno. Na época, o então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, declarou voto em Bolsonaro um dia antes do 2º turno em uma postagem nas redes sociais. A corregedoria da PRF chegou a desarquivar as investigações sobre a atuação da corporação nas eleições e uma nova apuração pode inclusive levar à cassação da aposentadoria de Vasques.
Seis dias antes do segundo turno, uma pesquisa do IPEC mostrava amplo domínio de Lula (PT) na região Nordeste, com 67% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro (PL) se destacava entre os moradores da região Sudeste, com 49% das intenções de votos. Lula liderou em todos os estados nordestinos onde haveria segundo turno.