Nessa segunda-feira (26), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, fez uma declaração contra o incêndio da estátua de Borba Gato, um famoso bandeirante que fez parte do processo de exploração dos paulistas ao restante do país entre os séculos XVI e XVII.
Ao comentar sobre o ocorrido, o prefeito disse que “não é fazendo ato de vandalismo que você vai poder discutir questões, mesmo que seja alguma dívida do passado. É preciso ter bastante tranquilidade, respeitar a democracia, tolerância”.
Nunes também afirmou que “não temos ainda o valor exato [dos danos causados], porque a gente precisa ter o laudo do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico) com relação ao material, mas a gente já tem o empresário que vai fazer a doação e a estátua será restaurada”, disse Ricardo Nunes. Entretanto, o prefeito não informou o nome do doador.
O incêndio da estátua de Borba Gato
O monumento foi incendiado nesse sábado (24) em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. O grupo “Revolução Periférica” reivindicou o ato para trazer mais fortemente a voz e a realidade da periferia.
Eles desembarcaram de um caminhão e espalharam pneus pela via e nos arredores do monumento e atearam fogo por volta das 13h30, segundo informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Durante o ato, os manifestante estenderam uma faixa com a frase “Revolução periférica – a favela vai descer e não vai ser carnaval”.
Policiais militares e bombeiros chegaram ao local pouco tempo depois, controlaram as chamas e liberaram o tráfego. Ninguém ficou ferido e, ao que tudo indica, o incêndio da estátua de Borba Gato não danificou seriamente o monumento. De qualquer forma, só será possível calcular os danos reais quando acabar a limpeza do local.
A Polícia Civil já estava investigando o caso na madrugada do dia seguinte e detiveram um suspeito, mas a Justiça o concedeu liberdade provisória. Além disso, a juíza Eva Lobo Chaib Dias Jorge revogou a prisão em flagrante por considerar que os atos “não foram praticados com violência ou grave ameaça”. Entretanto, a Justiça determinou que o suspeito não poderá se ausentar da cidade ou mudar de endereço; ele também deverá comparecer às audiências para justificar suas atividades.
Esta não é a primeira vez em que o monumento na Zona Sul de São Paulo é alvo de protestos. Em 2020, manifestantes colocaram crânios ao lado de monumentos de bandeirantes para refazer a história de São Paulo.
O problema dos bandeirantes
Assim como todos os bandeirantes, Borba Gato também capturou e escravizou todos os indígenas e negros que atravessavam seu caminho. Também estupraram e traficaram mulheres indígenas e roubaram minas de metais preciosos perto das aldeias, conforme o livro “Vida e Morte do Bandeirante”, de Alcântara Machado. A ação levou à dissipação de etnias em confrontos sangrentos.
Embora os bandeirantes façam parte de uma parte triste da nossa história, isso não quer dizer que devemos esquecer seus atos. Ao contrário do que se pensa, queimar um monumento não é, e nunca será, uma forma de apagar a história. A estátua de Borba Gato foi feita muito tempo após sua morte e nunca teve por objetivo manter a história viva; pelo contrário, era apenas uma forma de homenagear o bandeirante.