Sabemos que a inflação pode representar sérios desafios para os países emergentes, como, por exemplo, o Brasil. No entanto, os problemas que envolvem a inflação dessa vez estão voltados para o outro lado do mundo, mais precisamente no Cazaquistão.
Vários fatores, incluindo interrupções na cadeia de suprimentos, questões fiscais e monetárias restritivas, estão intensificando os problemas no país, resultando em protestos em massa, desencadeados principalmente pelos aumentos nos preços dos combustíveis.
Entenda o problema
A manifestação começou depois que o governo do Cazaquistão anunciou planos para suspender um teto de preço do gás liquefeito de petróleo, usado como combustível comum para carros no país, fazendo com que o preço do GLP dobrasse.
Desse modo, embora o governo tenha restabelecido os tetos de preços na tentativa de tranquilizar o público, os protestos continuaram e assumiram um tom mais politizado, resultando em uma emergência nacional e derramamento de sangue em grande escala em todo o Cazaquistão.
Importante destacar que o Cazaquistão é um dos vários países produtores de petróleo que relutou até recentemente em repassar os preços mais elevados para a sua população, que já vem lutando para sobreviver antes mesmo da pandemia e durante ela. Os protestos que começaram em uma cidade distante de Zhanaozen em 2 de janeiro de 2022, se espalharam como um incêndio, primeiro para as cidades próximas e, em seguida, para a capital comercial do país.
Como resultado, o gabinete do país renunciou, e o presidente Kassym-Jomart Tokayev, um aliado próximo do presidente russo Vladimir Putin, convocou tropas de Moscou para conter os distúrbios.
Inflação no Cazaquistão
Um dos motivos mais relevantes para esses protestos trata-se do aumento da inflação, em especial no aumento dos preços dos combustíveis. O Cazaquistão teve seu pior ano em 2021, quando a inflação média do país ultrapassou 8,9%. Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a inflação ultrapassará 14,1% em 2022. Isso se deveu em grande parte a uma seca nacional, custos crescentes de combustível e deterioração do desempenho da moeda.
Importante destacar que o Cazaquistão não é um país pobre em recursos naturais, fazendo parte dos países da OPEP, junto com a Rússia, que ajudou a estabilizar os preços globais do petróleo, bombeando em média cerca de 1,5 milhão de bpd de petróleo bruto por dia no ano de 2021.
No entanto, o país é mercado por um histórico de corrupção galopante e o apoio ativo do governo às elites do país, fazendo com que não houvesse oposição, e qualquer um que se opusesse era punido severamente.
O que esperar?
Embora a gravidade dos protestos tenha diminuído e a paz seja esperada no país da Ásia Central nas próximas semanas, um acordo abrangente deve ser alcançado com a ajuda de membros da organização central de segurança coletiva.
Não se trata apenas dos preços dos alimentos e dos combustíveis. São também outras queixas e desafios reais sobre o bem-estar econômico em um momento em que algumas partes do governo e da elite estão prosperando.
Em suma, a menos que o Cazaquistão tenha eleições justas, um governo de sua própria escolha e medidas para salvaguardar o bem-estar da classe trabalhadora, não haverá solução permanente.