O momento mais esperado e importante da viagem histórica do papa Francisco ao Iraque ocorreu neste sábado (6). O pontífice conheceu o aiatolá Ali Al Sistani, a mais alta autoridade religiosa xiita do país.
Realizado na cidade sagrada de Najaf, o encontro pode ser descrito como “uma visita privada sem precedentes na história”. É inédito não apenas pelo difícil momento pelo qual o Iraque está passando, recentemente emergindo de uma guerra brutal contra o Estado Islâmico, mas também porque o Vaticano vem preparando tal visita há décadas. No entanto, o papa Francisco foi o primeiro a realizar em sua viagem de três dias ao Iraque.
No final do encontro, o Vaticano explicou a visita em um breve comunicado. “O Santo Padre sublinhou a importância da colaboração e da amizade entre as comunidades religiosas para que, cultivando o respeito mútuo e o diálogo, podemos contribuir para o bem do Iraque, da região e de toda a humanidade”. O papa agradeceu o compromisso do aiatolá Sistani, junto com a comunidade xiita, “na defesa dos mais fracos e perseguidos”.
Quem é o aiatolá Al Sistani
Al Sistani, de 90 anos, não é apenas um religioso reconhecido por muitos fiéis iraquianos e xiitas. Ele também é um líder que mudou a história do país ao intervir nas questões políticas mais debatidas dos últimos 20 anos no Iraque. Por exemplo, em 2005, o aiatolá convenceu muitos iraquianos a participarem das eleições daquele ano, as primeiras após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a derrubada do regime sunita de Saddam Hussein.
Cinco anos depois, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu-lhe ajuda para resolver um impasse político que impedia a formação de um governo. Em 2014, no auge do poder do Estado Islâmico no Iraque, ele pediu a todos os homens que lutassem contra o grupo jihadista. Já em 2019, enquanto cidades de todo país protestavam contra o governo, em um dos sermões do religioso levou o então primeiro-ministro Adil Abdul Mahdi a renunciar.
O encontro entre o papa e o aiatolá
Em primeiro lugar, o encontro entre o papa e Al Sistani é considerado histórico pela implícita “mensagem de paz” à população iraquiana. Nos últimos anos, o Iraque passou por momentos de violência, como a guerra contra o Estado Islâmico, e instabilidade com várias crises de governo, entre outros problemas.
Além disso, tem um significado político que se estende para além das fronteiras nacionais iraquianas, e que afeta o vizinho Irã. O país também é de maioria xiita e há anos está muito presente nos assuntos internos do Iraque. No entanto, Al Sistani não é amigo do Irã, e se opõe à influência iraniana no país.
A cidade de Najaf, no Iraque, por exemplo, sempre competiu com a cidade iraniana de Qom pela supremacia entre os fiéis do islamismo xiita. As duas estão em desacordo porque têm uma visão oposta sobre qual deveria ser o papel da religião na política.
Por esta razão, para alguns especialista, o papa Francisco reconheceu implicitamente Al Sistani como interlocutor privilegiado no islamismo xiita. Além disso, o aiatolá também mostrou que preferia um encontro com o chefe da Igreja Católica do que com um líder político de um país formalmente aliado e amigo do Iraque.
O encontro também foi importante porque pode garantir um pouco mais de segurança para a minoria cristã no Iraque depois de anos de dificuldades. Foi a doutrina católica difundida sobretudo no Oriente Médio que quis organizar o encontro entre os dois líderes religiosos.
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