O Instituto Locomotiva e Patrícia Galvão realizaram uma pesquisa que aponta que oito em cada dez mulheres já foram vítimas de violência durante o transporte público, esse resultado equivale a 81% das mulheres brasileiras. Desta forma, o levantamento também apontou que as mulheres são as principais e mais vulneráveis vítimas em transportes públicos.
A insegurança no uso de simples transportes públicos reduz a segurança das mulheres e meninas na mobilidade urbana que, por consequência, afeta a saúde e o bem-estar. A pesquisa ainda ressalta que a situação não é a mesma para todos os grupos. O cenário é ainda mais grave e crítico para mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e deficientes. Do total das duas mil pessoas entrevistadas, 69% alegaram ter ouvido comentários inconvenientes, enquanto 31% afirmaram já ter sofrido algum tipo de violência com conotação sexual.
Segundo a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, os dados confirmam o que já era nítido perante a sociedade, de que “as mulheres não apenas se sentem mais inseguras como também são de fato mais vulneráveis a sofrer violências no deslocamento urbano”. Para 40% das mulheres, o maior medo no transporte público é sofrer preconceito ou discriminação. O receio em receber olhares insistentes e cantadas inconvenientes também é o temor de 39%. Se tratando de transporte público, ser atropelada ou sofrer algum acidente de trânsito é a menor das preocupações entre 30% dessas mulheres.
Em contrapartida, quando se trata de deslocamentos a pé, a maior preocupação de 43% das mulheres é sofrer racismo, situação pela qual 67% do público já passou. É o caso de Thamara Nichelle, de 23 anos de idade, que agradece por não ter enfrentado muitas dessas situações ao transitar por vias públicas. Contudo, bastou uma experiência isolada que se tornou marcante para ela. Foi quando no ano de 2018, ela foi encoxada no ônibus enquanto voltava para casa da aula. “Só consegui chorar quando cheguei em casa”.
No relato, a jovem conta que não foi um acontecimento acidental, foi nitidamente proposital que a levou em choque por um determinado tempo, no qual apenas se concentrou em chegar logo em casa. Desde então, ela traça todos os tipos de estratégia para evitar usar o transporte público em horários de pico, chegando a esperar por até duas horas para pegar linhas alternativas.
Enquanto isso, Jennifer Cristine, que hoje tem 27 anos, conta que o primeiro assédio aconteceu quando ela ainda tinha 11 anos de idade e brincava na rua. Na ocasião ela foi abordada por um desconhecido com uma pergunta indecente, diante do choque, ficou sem reação, e apenas esperou que o homem se afastasse para sair correndo à procura da mãe.
Depois disso, Jennifer foi abusada diversas vezes no ônibus e no metrô sem conseguir se defender. “Sempre tive medo de sair como louca ou mentirosa e ficar por isso mesmo. Homens que se esfregavam ao ponto de eu sentir o membro deles, outros que passavam a mão, e a minha única reação era descer em uma parada que na maioria das vezes não era a minha”, contou.