Alegações de que dois pastores evangélicos usaram sua influência no Ministério da Educação do Brasil para direcionar recursos federais a amigos, estão causando uma nova polêmica em ano eleitoral para o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Entenda o caso
Pastores evangélicos usaram sua influência no Ministério da Educação do Brasil para direcionar recursos. A história vazou através de gravações de áudio, que alegavam que dois pastores que atuavam como conselheiros não oficiais do ministério estavam favorecendo municípios administrados por seus aliados.
Um dos pastores, o reverendo Arilton Moura, chegou a pedir um quilo de ouro além de cerca de US$ 3.000 em troca do financiamento de escolas e creches, segundo o prefeito Gilberto Braga da cidade de Luís Domingues.
Conteúdo das gravações dos pastores
A gravação mostra o ministro da Educação, Milton Ribeiro, contando a vários prefeitos que o governo priorizou municípios cujos pedidos são apoiados por Moura e pelo Reverendo Gilmar Santos.
“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo lugar, atender todos aqueles que são amigos de Gilmar”, disse na gravação a voz identificada como de Ribeiro. Acrescentou que se trata de “um pedido especial do Presidente da República”.
Ribeiro reconheceu ter se reunido com os pastores e prefeitos locais em várias ocasiões a pedido de Bolsonaro, mas negou qualquer irregularidade.
“Não tenho condição nem competência para alocar nada porque os critérios no (ministério) são eminentemente técnicos”, disse o ministro. “Eu posso ter simpatia por algum pastor, ou algum prefeito que ele traz, mas se ele não atingir esse perfil técnico, nada é feito.”, complementou.
Sobre os pastores
O ministério não respondeu aos pedidos de informações de contato dos dois pastores. A igreja de Silva no estado de Goiás também não respondeu a um pedido de comentário e não foi possível localizar imediatamente Moura.
Os dois são membros de vários movimentos de Assembleias de Deus no Brasil. O maior desses movimentos, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, divulgou um comunicado se distanciando deles.
Os dois “não representam e não estão autorizados a falar em nome da Convenção Geral”, disse, acrescentando que a convenção “repudia as práticas noticiadas na imprensa hoje… sobre a intermediação de fundos públicos com o Ministério da Educação”.
O procurador-geral do Brasil, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal que abra uma investigação sobre se pessoas sem vínculo oficial com o Ministério da Educação agiram para liberar recursos públicos, respondendo a petições de parlamentares da oposição.
“Enquanto os pastores negociavam propinas para direcionar os recursos do ministério, milhões de estudantes não tinham acesso à educação ou abandonavam a escola”, alegou no Twitter o deputado da oposição Tabata Amaral.
Pastores e Bolsonaro
Os evangélicos são amplamente vistos como uma facção-chave que apoia a campanha de Bolsonaro para a reeleição em outubro. As pesquisas o mostraram consistentemente atrás do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
O vice-presidente Hamilton Mourão disse quarta-feira que as reportagens devem ser investigadas, embora tenha descrito o ministro da Educação aos jornalistas como uma pessoa “honesta” e “extremamente educada”.