Uma reportagem publicada nesta segunda-feira (25) pelo jornal “O Estado de S.Paulo” mostrou que os partidos não estão muito preocupados com a afinidade ideológica ou programática de seus candidatos nas eleições deste ano. De acordo com o jornal, dirigentes das siglas nos Estados estão fazendo uma espécie de “leilão”. O foco: recrutar candidatos populares que, mesmo sem chances de vencer, podem atrair votos para a legenda.
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Segundo a publicação, os partidos chegam a oferecer R$ 1 milhão, além do valor que já será destinado para a campanha. Isso acontece porque antes, com as coligações, a soma de todos os votos dados ao grupo ajudava a conquistar uma vaga na Câmara. Todavia, a partir desta eleição, somente o partido pode usufruir dos votos dados aos seus candidatos, tornando assim fundamental os votos recebidos até por aqueles que não ganham a eleição, visto que eles podem ajudar as “estrelas” da chapa conseguirem uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Na reportagem do “Estado de S.Paulo”, consta que foram necessários sete meses para apurar e confirmar evidências da existência de um mercado de compra de candidaturas. Segundo o jornal, essa busca por chapas competitivas acaba corroendo a importância das legendas, fazendo com que a representação política seja pautada por interesses privados.
“O cara não tem expressão, tem 25 mil votos, não ganha eleição em partido nenhum. E diz ‘quero vender esses votos’. Vou para o seu partido, quanto você me dá de dinheiro?”, revelou na publicação Agnaldo Oliveira, presidente do PMN em Minas Gerais. De acordo com ele, esses candidatos são conhecidos popularmente como “escadinha”, pois entram na disputa apenas para eleger os principais nomes dos partidos.
Marcus Alves, advogado que atua na tentativa de recriar a UDN, um partido conservador pré-ditadura militar, afirmou que esses candidatos se tornaram uma “pedra preciosa”. Segundo o advogado, ele conhece um candidato que foi bem nas últimas eleições, tendo 90 mil votos e, hoje, pede R$ 1 milhão para assinar com um partido.
“Uma ofereceu R$ 600 mil, outra R$ 800 mil. Ele quer R$ 1 milhão. Os candidatos que tiveram muitos votos estão se valorizando. Quem teve 80 mil votos vale ouro. Pede dinheiro para colocar no bolso, fora o fundo eleitoral. Isso é no Brasil todo”, explicou Marcus Alves durante a reportagem.
Nas últimas eleições, um levantamento mostrou que, dos 513 deputados federais eleitos, somente 27 dependeram somente de votos próprios para serem eleitos, o que mostra a importância de votos de outros candidatos para que os principais nomes dos partidos possam ser eleitos à Câmara.
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