Jair Bolsonaro foi identificado como ‘pai’ do Auxílio Brasil em respostas espontâneas (quando não são apresentadas opções aos entrevistados) pesquisa. 74% dos entrevistados afirmam que Jair é o “responsável pela criação do Auxílio Brasil”.
Uma das principais estratégias de campanha da equipe é associar o pré-candidato e o programa de transferência de renda. No entanto, de acordo com pesquisas recentes, a ligação não indica necessariamente intenções de voto no presidente.
Outros 3% dizem que foi o ex-presidente e também pré-candidato Lula (PT), que lidera todas as pesquisas de intenção de voto. E 21% dos eleitores dizem não saber quem foi o responsável pelo programa.
O Bolsa Família
Quando questionados a respeito do antigo programa Bolsa Família, 55% dos eleitores afirmam que o ex-presidente Lula foi o criador. Em sequência estão Fernando Henrique, Bolsonaro e Dilma com 10%, 4% e 2%, respectivamente.
26% dos entrevistados (um quarto da população) desconhece quem foi o criador do Bolsa Família.
A reeleição do ‘pai’ do Auxílio Brasil’
A renovação do programa de transferência de renda busca vencer o desafio de convencer milhões de beneficiários de que o Bolsa Família, após quase duas décadas e fortemente vinculado aos governos do PT, mudou de nome.
Agora ele tem ‘a cara’ do novo Governo, de Bolsonaro. A PEC 16, aprovada pelo Senado Federal, reforça a intenção. Aproximadamente R$ 40 bilhões serão desembolsados para bancar:
- O adicional de R$ 200 ao ticket do Auxílio Brasil;
- O aumento do Vale Gás Nacional; e
- O Voucher Caminhoneiro de R$ 1 mil.
Isso tudo às vésperas das eleições presidenciais. Para serem implantadas, será necessário que o Governo Federal decrete estado de emergência, a fim de driblar as restrições eleitorais.
Outras medidas
Apesar dos esforços como discussões sobre o design do cartão magnético, as cores impressas e o próprio nome do programa, ter Bolsonaro como o ‘pai’ do Auxílio Brasil não significa tanto quanto parece.
Apagar a memória do Bolsa Família e do PT é mais desafiador do que parece. Entretanto, driblar os efeitos da inflação na vida das famílias em situação de pobreza e extrema pobreza é impossível.
Lucio Rennó, professor de Ciência Política da UnB, avalia os resultados da pesquisa feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC):
— O que Bolsonaro fez do ponto de vista político é muito perspicaz. O Bolsa Família é a marca registrada do PT, mais do que um programa de Estado. E o governo Bolsonaro tentou interromper isso de alguma maneira. Com esses resultados aliados à corrida eleitoral, fica claro que o Bolsa Família está na memória da população. É simbólico, é a marca do combate à desigualdade que a população associa ao PT.
No entanto, o professor afirma que o esquecimento a respeito de quem criou o Bolsa Família é o reflexo do impacto das críticas que o programa sofreu. Principalmente a avaliação de que ele era clientelista.
Bolsa Família x Auxílio Brasil
A pesquisa também apresenta que 88% dos entrevistados apoiam o Bolsa Família, e 85%, o Auxílio Brasil. Ou seja, a validação dos programas sociais não trará distanciamento entre os pré-candidatos.
Para Rennó o que irá contar é como cada eleitor compreende os benefícios: seus impactos e objetivos.
— Durante a pandemia, o auxílio emergencial foi importante para sustentar a popularidade de Bolsonaro, mas, em princípio, o Auxílio Brasil não necessariamente recaptura eleitores de baixa renda que o presidente vem perdendo desde a eleição — aponta o cientista político. — A aposta agora é massificar essa estratégia com a Proposta de Emenda Constitucional que amplia os projetos sociais. Apesar de fazer sentido politicamente, a ação pode ter sido apresentada tardiamente pela pré-campanha do presidente Bolsonaro.
Opiniões
Fábio Kerche, professor de ciência política da Uni-Rio, afirma que o alto reconhecimento do Auxílio Brasil como obra de Bolsonaro não influencia nos feitos dos governos anteriores.
— Eleitores podem até reconhecer que é uma iniciativa do atual governo, mas não a ponto de mudar a intenção de voto. Existe uma discussão sobre a credibilidade e compromisso de cada candidato com essa pauta. No caso de Bolsonaro, há desconfiança. Muitos podem se perguntar: “Por que não fez antes?” Reconhecer ou saber de quem veio não significa aderir.
— No fundo, muitos eleitores veem medidas aprovadas como tentativas de reverter as coisas na última hora. Essa carestia não vem de hoje. É uma hipótese, mas há um sentimento de ação eleitoreira, ao final dos 45 minutos do segundo tempo. Uma pessoa pode buscar o dinheiro por achar que é seu, que tem direito. E isso não necessariamente resulta em voto em Bolsonaro porque existe uma memória de que, no tempo do Lula, havia mais emprego. E o auxílio vem para quem está desempregado.
A pesquisa “A cara da democracia” foi feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC), com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%. Participaram as universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj, com financiamento do CNPq e da Fapemig.