Quando o mais forte terremoto já registrado no Japão se desenvolveu na costa leste do país, tudo na usina nuclear de Fukushima Daiichi inicialmente correu como deveria. Era 14h46 (horário local), em 11 de março de 2011, 10 anos atrás, quando o terremoto de magnitude 9,1 teve o epicentro a 97 quilômetros de distância da usina. Os sistemas de segurança detectaram o terremoto e interromperam automaticamente as reações de fissão nuclear. Ao mesmo tempo, eles acionaram os geradores de emergência, para resfriar os reatores, conforme exigido pelos protocolos.
O que não era esperado era a onda de 14 metros que chegou uma hora depois, o que teria causado um desastre que a Agência Internacional de Energia Atômica classificou como “catastrófico”, segundo a escala internacional de eventos nucleares. Apenas um outro acidente foi incluído na mesma categoria: o ocorrido 25 anos antes na usina ucraniana de Chernobyl.
A inadequação dos sistemas de segurança da usina de Fukushima levou ao colapso parcial de três dos reatores. As explosões subsequentes espalharam poeira radioativa por quilômetros ao redor da usina e forçaram dezenas de milhares de pessoas a fugir de suas casas por anos. O desastre reacendeu os debates sobre a segurança da energia nuclear em todo o mundo.
O terremoto
A usina nuclear de Fukushima Daiichi está localizada 220 quilômetros a nordeste de Tóquio, na costa da Ilha de Honshu com vista para o Oceano Pacífico, e foi construída entre 1971 e 1979. É composta por seis reatores nucleares de água fervente: ou seja, do tipo em que o calor produzido pelas reações de fissão nuclear é usado para aquecer a água e, assim, obter o vapor, que aciona as turbinas das quais é obtida a energia elétrica.
Em 11 de março de 2011, apenas três reatores estavam em operação. O terremoto ocorreu quando no Japão eram 14h46: logo após a detecção do choque, os sistemas de segurança interromperam as atividades. Nesse processo com geradores de emergência, as barras de combustível nuclear continuam muito quentes, sendo necessário continuar o resfriamento com água fria para evitar que o combustível derreta e destrua a estrutura do reator, o que faz o material escapar para fora.
Tsunami em Fukushima
Os verdadeiros problemas na usina vieram com o tsunami. Menos de uma hora após o terremoto, uma grande onda com mais de 14 metros de altura, passou pelos pilares que protegiam a usina. O impacto atingiu os prédios do reator, causando o desligamento dos geradores de emergência. Devido à forma como os sistemas de resfriamento do reator foram construídos, eles continuaram a funcionar por algumas horas, mas na manhã seguinte o combustível começou a derreter.
Como não havia água doce disponível, a Tokyo Electric Power Co. (Tepco), empresa que administra a usina de Fukushima, injetou água do mar (junto com ácido bórico) nos reatores para tentar resfriá-los. A água era lançada nos prédios do reator por meio de helicópteros, hidrantes e navios, para resfriar os tanques de combustível, que esquentavam na ausência de resfriamento. As barras de combustível foram então resfriadas, mas isso não evitou que o combustível fundido criasse buracos em dois reatores.
Ao mesmo tempo, dentro dos reatores, o vapor gerado pelo aumento da temperatura se mistura com os elementos radioativos e o hidrogênio produzido na fusão. Ocorreram vazamentos de hidrogênio, que em contato com o oxigênio geram explosões. Dessa forma, houve a liberação de substâncias radioativas não filtradas na atmosfera, no solo e no mar.
Primeiramente, o governo evacuou todas as localidades em um raio de 20 quilômetros ao redor da usina nuclear. Em seguida, estendeu o isolamento para 30 quilômetros no fim de março de 2011. O material radioativo espalhou-se para as áreas circundantes pela evaporação da água usada para resfriá-lo. Em dezembro do mesmo ano, o então primeiro-ministro Yoshihiko Noda declarou que a situação na usina estava estável e sob controle.
Os efeitos da radiação
Duas pessoas que trabalhavam na usina de Fukushima morreram no dia do terremoto, mas não por causa da radiação. Ao todo, 16 profissionais ficaram feridos nas explosões e dezenas foram expostos à radiação. Ao longo dos anos, porém, alguns deles desenvolveram câncer, e em alguns casos o governo japonês indenizou a família do trabalhador.
Uma investigação concluiu que o desastre ocorreu porque a Tepco não havia equipado os sistemas de segurança da usina para lidar com um evento como um terremoto seguido de tsunami. Em 2019, a Justiça do país absolveu três ex-executivos da empresa acusados de negligência. Além disso, determinou que o governo japonês também tem responsabilidade pelo incidente junto com a Tepco. Portanto, teve que a compensar as pessoas forçadas a deixar suas casas e cidades.
Do tsunami de 2011 até hoje, as obras de retirada do material radioativo de Fukushima nunca terminaram e vão continuar por muito tempo. De acordo com o governo japonês, o custo do desmantelamento da usina é bilionário.