Enquanto as forças rebeldes da região do Tigray estão vencendo a guerra que atingiu a Etiópia há um ano, o país se encontra em estado de emergência devido ao medo e à incerteza. A situação foi anunciada pelo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, que também mencionou a fome pela qual cerca de 400 mil etíopes tem passado.
À medida que os rebeldes avançam rumo à capital Addis Ababa, o governo da Etiópia clama aos moradores que se mobilizem em prol da comunidade e protejam a vizinhança. Enquanto isso, os combatentes do Tigray liderados pela Frente de Libertação Popular do Tigray (FLPT), tomaram as cidades de Dessie e Kombolcha, situadas na região de Amhara, próxima a Tigray e a 400 KM de Addis Ababa.
Acredita-se que a batalha de Dessie tenha sido uma das mais violentas da guerra atual, já que a cidade é considerada o portal para Addis Ababa e se encontra próxima à fronteira com o Djibuti, a leste. Uma afirmação feita pelo funcionário do principal hospital de Dessie antes da tomada dos combatentes declarou que a cidade sofreu mudanças climáticas nos últimos meses à medida que combates se acirraram nas redondezas.
O funcionário que pediu para não ser identificado, disse que Dessie era conhecida como a capital do amor em virtude da miscigenação cultural e étnica, se consolidando como um centro econômico próspero. Porém, nos últimos meses, milhares de fugitivos chegaram das áreas atacadas pelos rebeldes. “No caminho entre a minha casa e o trabalho, crianças pequenas puxavam minhas calças pelas pernas pedindo dinheiro para comprar pão”, contou.
Ele e tantos outros colegas abandonaram o hospital quando os soldados do governo deixaram a cidade temendo algo pior. Agora, o homem está em Addis Ababa, onde Tewodrose Hailemariam, um dos principais membros do Movimento Nacional de Amhara. A mobilização gira em torno das comunidades com o propósito de enviar combates para impedir o avanço dos rebeldes além de também fornecer apoio aos deslocados. Para ele, a real motivação da FLPT significa o retorno ao poder.
A FLPT liderou o país durante 27 anos até o ano de 2018, momento em que foi substituída pelo governo do primeiro-ministro Abiy. “Existem duas opções: ou a FLPT é derrotada e o governo central da Etiópia é mantido, ou o pior cenário: a FLPT controla Addis Ababa e toma o poder. Neste caso, haverá uma guerra civil em todo o país”, declarou.
Diante do cenário crítico, desde o mês de maio, a Organização das Nações Unidos (ONU) declarou que cerca de 400 mil pessoas enfrentam a fome em meio à guerra. No mês de junho, as agências de assistência afirmaram que os bloqueios nas estradas afetaram a região enquanto restrições de dinheiro e combustível dificultaram o transporte de auxílio de emergência voltado a mais de cinco milhões de etíopes necessitados.
Após a elaboração de um plano inicial de negociações junto ao governo de Abiy Ahmed, as forças de Tigray, motivadas pelas vitórias militares nas regiões de Amhara e Afar nos últimos meses, decidiram que não irão negociar. De acordo com o ex-general do Exército e comandante das forças de Tigray, Tsadkan Gebretensae, afirmou que a guerra já está próxima de acabar e que a próxima etapa será um diálogo nacional pós-Abiy.
“Nós nunca pretendemos solucionar a complexidade política do país com base apenas nas nossas condições. Nós vamos criar uma plataforma para reunir todos os interessados e discutir o futuro do país”, disse em entrevista à uma rede televisiva do Tigray.