Entre a comunidade de motoristas de aplicativos de transporte de Portugal, está a presença massiva de brasileiros. No entanto, esses profissionais têm sofrido com a insatisfação no trabalho, levando muitos a cogitar ou realmente abandonar as plataformas.
Um dos motoristas brasileiros em Portugal concedeu uma entrevista anônima ao O Globo nesta semana. O homem ressaltou a desvantagem em prestar serviços para empresas como a Uber, Free Now e Bolt, ao combinar os aumentos dos custos para transitarem nas principais cidades do país, Porto e Lisboa.
Ele conta que é praticamente um trabalho escravo. Para ganhar, pelo menos, 1,2 mil euros, o equivalente a R$ 7,6 mil, é preciso produzir, no mínimo, 800 euros por semana para a empresa. “E não importa o número de horas que trabalhe para atingir esse objetivo, mas eu saio 6h e volto depois das 21h. E qualquer arranhão no carro, perde o caução”, contou o motorista.
O motorista brasileiro também disse que as empresas passaram a confiscar as gorjetas deixadas pelos clientes nos aplicativos de transporte após as viagens. Para ele, cujo real desejo é trabalhar no setor de construção civil, esta foi a gota d’água.
O entrevistado disse trabalhar para três aplicativos de transporte em Portugal, Uber, Bolt e Free Now. Ele tenta tirar, ao menos, uma folga por semana, e quando não bate a meta, é chamado a atenção, ainda que todas as despesas com alimentação e semelhantes seja por conta dele.
A insistência em prestar serviços para como motorista de aplicativo de transporte se deve ao fato de que, por hora, ele não quer voltar para as obras, considerando que é época de inverno. Infelizmente, relatos como esse são extremamente comuns, atingindo pessoas como Marcel Borges, advogado e motoboy.
Borges disse representar informalmente os entregadores agrupados no Espaço Estafeta. Tendo em vista que são atuações semelhantes, ele diz já estar por dentro do problema enfrentado pelos motoristas brasileiros e destaca que tantos outros decidiram voltar para o Brasil ou mudar de profissão para continuar em Portugal.
O advogado e motoboy conta que, a realidade dos motoristas brasileiros é pagar mais do que recebem. Na oportunidade, ele mencionou os custos fixos de 23% de Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) e 22% para Segurança Social. Assim, fica um saldo de 55% para lucro, manutenção do carro e alimentação.
Desta forma, é necessário trabalhar uma média de 12 horas diárias para ter um rendimento razoável. Por esta razão, muitos motoristas migraram para o serviço de motoboy no auge da pandemia, enquanto uns largaram/trocaram os empregos e setor de atuação e outros voltaram para o Brasil.