Um áudio atribuído ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, mostra ele afirmando que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), repassa verbas para municípios específicos indicados por dois pastores. O áudio foi liberado na madrugada desta terça-feira (22) pelo jornal “Folha de S.Paulo” e teria sido gravado na noite de segunda (21) enquanto Milton Ribeiro conversava com prefeitos de vários municípios.
Na semana passada, o mesmo jornal havia revelado a existência de um possível “gabinete paralelo” de pastores. Esses líderes religiosos controlariam verbas e também a agenda do Ministério da Educação.
No áudio, o ministro diz que existem dois pastores específicos. Segundo a publicação, esses líderes religiosos são Gilmar Santos e Arilton Moura. Nenhum da dupla tem cargo no governo, mas participam ativamente de reuniões da gestão do presidente Bolsonaro.
Gilmar Santos é o líder máximo da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb). Assim como ele, Arilton Moura também pertence à alta cúpula da Assembleia de Deus.
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do pastor Gilmar”, afirmou o ministro do áudio. “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, acrescentou Milton Ribeiro.
Durante a conversa, sem dar mais detalhes, o chefe da pasta disse que existe uma contrapartida para esses repasses. “Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser inaudível, é apoio sobre construção das igrejas”, afirmou.
Após a repercussão do caso, o Milton Ribeiro divulgou uma nota. No texto, ele não comentou sobre o conteúdo específico do áudio, resumindo-se a relatar que o presidente não pediu para que ele desse um tratamento especial aos pastores.
Bolsonaro e sua relação com as igrejas
Desde antes de assumir a presidência, Bolsonaro tem nas igrejas uma grande base aliada. Após ter sido eleito, ele tentou estreitar ainda mais a relação com a comunidade evangélica. No começo deste mês, o chefe do Executivo se reuniu com 24 pastores de igrejas evangélicas na residência oficial do Palácio da Alvorada.
Além desse encontro, não é raro ver Bolsonaro em cultos evangélicos. Recentemente, ele cumpriu uma promessa de campanha e indicou um ministro “terrivelmente evangélico” ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Justiça André Mendonça, atual ministro da Corte e pastor.
Leia também: MP denuncia Bolsonaro e Wal do Açaí por improbidade administrativa