Pela primeira vez em quatro anos, o Ministério da Defesa não publicou nada em comemoração ao golpe de 1964. A decisão de deixar a data passar em branco partiu do comandante do Exército, general Tomás Paiva, e teve a anuência do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. O fato não vinha sendo relatado nos últimos anos, visto que, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), a ordem do dia era emitida com elogios à ruptura democrática no país.
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Na gestão de Bolsonaro, a distribuição de documento com elogio ao golpe foi fato inédito desde a criação do Ministério da Defesa, em 1999. A celebração de 1964 dividia opiniões nas Forças Armadas, sendo que, antes da administração de Bolsonaro, a data somente era lembrada por alguns comandantes de unidades do interior do país.
O fim da comemoração do golpe militar já era discutida desde quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o poder. No entanto, a ideia de abolir as comemorações para a data foi reforçada após os episódios criminosos no dia 08 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes – Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar de o Exército não ter comemorado a data, clubes Naval, Militar e Aeronáutico celebraram o dia. Em carta conjunta, por exemplo, essas entidades destacaram que seria impossível “deixar de estar alinhados com as Forças Armadas, às quais se vinculam compromissos e ideais para que o 31 de Março de 1964 permaneça vivo na história, somente onde seu legado de pacificação e desenvolvimento do Brasil possa ser compreendido”.
Ainda no documento, clubes Naval, Militar e Aeronáutico afirmam que, como “entidades representativas de uma classe profissional que simplesmente não pode existir alheada da pátria, continuarão a propugnar pelas importantes causas do Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964, comuns a todos os brasileiros: defesa da soberania nacional, combate à corrupção, desenvolvimento do país e garantia da democracia”.
De acordo com o Centro de Comunicação Social do Exército, haverá investigações para saber se houve comemoração ou ato oficial relativo ao 31 de março de 1964′ no âmbito da Força Terrestre. “Um eventual descumprimento de ordem, caso ocorra, após comprovado em processo administrativo e respeitados os direitos do contraditório e ampla defesa, estará sujeito às sanções previstas no Regulamento Disciplinar do Exército (RDE)”, pontuou a entidade.
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