Um importante comunicador da televisão estatal russa acusou, neste domingo (2), o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin de “sair dos trilhos” depois de receber bilhões em fundos públicos. Com isso, a nova narrativa de Moscou toma forma, após Prigozhin liderar suas forças em uma rebelião de curta duração contra o alto escalão militar da Rússia, em um grande embaraço para o Kremlin.
Grupo Wagner e televisão estatal russa
Neste domingo, Dmitri Kisiliov, apresentador de um programa semanal da Rússia 1, uma das maiores emissoras estatais do país, afirmou:
Prigozhin enlouqueceu devido às grandes quantias de dinheiro. A sensação de acreditar que tudo é permitido começou há muito tempo, desde as operações [do grupo Wagner] na Síria e na África.
Além disso, sem fornecer qualquer evidência, Kisiliov disse que o grupo Wagner recebeu mais de 858 bilhões de rublos (US$ 9,7 bilhões) em fundos estatais e com isso, pensaram que poderiam desafiar o Ministério da Defesa, o próprio estado e o presidente pessoalmente.
Como resultado, as táticas midiáticas do Kremlin podem fazer com que os rebeldes percam apoio. A primeira pesquisa de opinião independente após os distúrbios na Rússia colocou Prigozhin com 29% do apoio popular, abaixo dos 58% anteriores.
Impacto sobre Putin
A deserção do Grupo Wagner teve enorme repercussão na Rússia e internacionalmente. O consenso entre políticos e analistas internacionais é que o motim enfraqueceu Vladimir Putin e levantou questões sobre suas decisões como “mão de ferro” em um momento crucial quando as forças russas enfrentaram uma feroz contra-ofensiva ucraniana.
Espera-se que a rebelião do grupo Wagner tenha efeitos devastadores nas forças armadas russas, enquanto o Kremlin luta para eliminar os apoiadores da tentativa de rebelião e as divisões e conflitos internos podem prejudicar as capacidades de combate.
No entanto, apesar da turbulência de alto nível em Moscou, não há efeitos perceptíveis nos campos de batalha ao sul, onde a s unidades russas continuaram a defender o território ucraniano que ocuparam por trás de um temível sistema de campos minados e armadilhas para tanques, ironicamente construído pelo grupo Wagner.
Ascensão de Prigozhin
Alvo de sanções de Washington e Bruxelas, Prigozhin operou por anos nas sombras, mas se tornou o centro das atenções desde que Putin enviou tropas à Ucrânia em fevereiro de 2022. Em injúrias cheias de palavrões, ele acusou os militares russos de tentar “roubar” as vitórias de Wagner no leste da Ucrânia e criticou a “burocracia monstruosa” de Moscou por retardar os ganhos militares.
Em suam, Yevgeny Prigozhin foi autorizado a recrutar combatentes das prisões e, em março, os legisladores russos aprovaram uma legislação que impôs longas penas de prisão àqueles que criticassem “grupos de voluntários”, como o grupo Wagner.