Dados revelados pela Caixa Econômica Federal nesta quinta-feira (17) mostram que a inadimplência do programa de microcrédito SIM Digital, criado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e operado pela instituição financeira, chegou a 88%.
Essa informação foi divulgada durante a apresentação dos resultados da Caixa no primeiro semestre deste ano. Na ocasião, constatou-se que esse percentual de inadimplência do SIM Digital é maior do que fora informado anteriormente pelo banco público, que dizia que o índice era de 80%.
Matematicamente falando, essa inadimplência significa que, para cada R$ 100 emprestados, R$ 88 não foram pagos. Ao todo, a Caixa emprestou R$ 3 bilhões no SIM Digital e, nesse sentido, a informação é de que o calote está em cerca de R$ 2,6 bilhões.
Essa linha de crédito era considerada de altíssimo risco já quando fora criada, pois autorizava empréstimos inclusive para quem já tinha até R$ 3 mil em dívidas – qualquer banco poderia participar, mas apenas a Caixa aderiu.
De acordo com a Caixa, até 75% do calote pode ser coberto com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Durante a apresentação dos resultados, Henriete Bernabé, vice-presidente de riscos da Caixa, afirmou que o banco prevê “R$ 2 bilhões de perda para o FGTS”.
“É uma das maiores inadimplências já vistas no mercado brasileiro. Para comparação, o programa de microcrédito do Banco do Nordeste teve uma inadimplência de 5,8% no ano passado. O resultado foi considerado ruim, já que dois anos antes o índice foi de 0,8%”, disse ele.
Ainda segundo o vice-presidente, quando ele entrou na presidência da Caixa, pediu uma auditoria no SIM Digital e no consignado do Auxílio Brasil, ambos programas que foram criados via Medida Provisória assinada por Bolsonaro e aprovados pelo Congresso Nacional.
“A Caixa é operadora. Se eu fosse presidente da Caixa na época, eu não operaria os dois programas. São programas, de fato, questionáveis”, completou ele durante o evento.
O programa SIM Digital
O SIM Digital foi criado com o objetivo de emprestar de R$ 300 a R$ 1.000 com taxas de juros muito baixas. Na época, o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, era o grande entusiasta do microcrédito e, na ocasião, chegou a assinar a medida provisória simbolicamente.
Ao contrário de outras experiências de microcrédito bem-sucedidas no mundo, o SIM Digital não teve fase piloto ou implementação gradual e, por conta disso, logo em março do ano passado, seu primeiro mês, liberou R$ 1,3 bilhão. Até junho, R$ 2,6 bilhões.
O programa só foi revisado no final de junho de 2022 quando Pedro Guimarães deixou a Caixa devido a denúncias de assédio sexual e moral. Com a saída, a Caixa parou de empresar dinheiro para quem tinha o nome sujo, pois, lá, já era possível notar o alto índice de não pagamento das primeiras parcelas – o SIM Digital foi encerrado pela Caixa em junho deste ano, após reportagem do UOL.
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