Duas semanas se passaram desde o golpe militar em Mianmar e a prisão de Aung San Suu Kyi, a principal líder política do país. Desde então, várias cidades birmanesas registraram protestos, que se tornaram cada vez mais populares.
As manifestações envolvem vários setores da população, de professores a alunos, de monges budistas a médicos. No último domingo (14), pela primeira vez desde o golpe, os militares posicionaram tanques contra os manifestantes que protestavam pacificamente. No fim de semana, os protestos mais intensos ocorreram na cidade de Myitkyina, no estado de Kachin, onde manifestantes se reuniram em frente a uma usina após a notícia nas redes sociais de que o governo queria suspender o fornecimento de energia elétrica.
Canhões de água foram usados para dispersar os manifestantes, e os sons de tiros podem ser ouvidos nos vídeos que circulam na internet, embora não esteja claro se o exército e a polícia usaram balas reais ou de borracha. De acordo com a imprensa internacional, muitas pessoas foram presas, incluindo cinco jornalistas que estavam lá para documentar os protestos.
No fim de semana, a junta militar anunciou que suspendeu três seções de uma lei que impedia as forças de segurança de prender suspeitos ou revistar propriedades privadas sem a autorização da Justiça. Conforme a Reuters, a decisão também permitiria que as autoridades espionassem conversas privadas.
Censura em Mianmar
Além disso, foram introduzidas algumas emendas ao código penal que permitem que qualquer pessoa que incite ao ódio ao governo ou aos militares seja presa por até 20 anos, seja com palavras, faladas ou escritas, ou com símbolos, sinais ou de outra forma.
A Associação de Assistência aos Presos Políticos da Birmânia (AAPPB) afirmou que tudo isto serviu para estimular na população “o medo aos encontros noturnos”. Isso porque, em essência, a polícia pode efetuar buscas mesmo sem a permissão de um juiz.
De acordo com a AAPPB, pelo menos 400 pessoas foram presas em conexão com o golpe até agora. A situação também é complexa para os jornalistas de Mianmar que tentam contar os acontecimentos, e muitos deles são forçados a permanecer escondidos em casa por medo de serem presos. Pelo menos sete ativistas populares nas redes sociais já foram presos.
Além disso, entre a noite de domingo e a manhã desta segunda-feira (15), para conter os protestos, a junta militar restringiu o acesso à Internet. De acordo com o NetBlocks, apenas 14% das conexões em todo o país funcionaram durante o período. As conexões telefônicas também foram limitadas.