Doze membros da CPI dos Atos Golpistas protocolaram uma notícia-crime contra o coronel do Exército Jean Lawand no Ministério Público Federal, acusando-o de falso testemunho em seu depoimento realizado na terça-feira (27) à comissão parlamentar de inquérito.
A convocação do coronel Jean Lawand Junior ocorreu após a divulgação de mensagens golpistas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que já atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 2022, Lawand enviou mensagens a Mauro Cid, encorajando um golpe de Estado para evitar a posse do então presidente eleito, Lula. No dia primeiro de dezembro, Lawand enviou uma mensagem de áudio a Mauro Cid, sugerindo que Bolsonaro deveria comandar o Exército para tomar ações.
Mensagens entre o Coronel lawand e Mauro Cid
Nas mensagens, Lawand sugeriu a Mauro Cid, ainda em 2022, que Bolsonaro mobilizasse as Forças Armadas para impedir a posse de Lula (PT). Nesse sentido, Lawand expressou em um áudio para Cid, dizendo: “Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer…”.
Em outra mensagem, datada de 10 de dezembro do mesmo ano, Lawand enviou: “Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão pra baixo está”.
A última conversa entre os dois ocorreu em 21 de dezembro de 2022. Jean Lawand Junior escreveu: “Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos”. Cid respondeu: “Infelizmente”.
Questionado na CPI sobre o significado da mensagem, Lawand esclareceu: “A ideia minha, desde o começo, desde a primeira mensagem com o Tenente-Coronel Cid foi que desse… que viesse alguma manifestação para poder apaziguar aquilo e as pessoas voltarem às suas casas e seguirem a vida normal.”
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Acusação de falso testemunho
No entanto, os parlamentares consideram essa versão falsa. Em sua representação, eles argumentam que o pedido, nitidamente direcionado ao então presidente Bolsonaro, visava uma “ordem”, não uma mensagem de apaziguamento. Além disso, eles sustentam que, se a intenção fosse apenas desmobilizar os acampados em frente aos quartéis, não seria necessária a intervenção do Alto Comando do Exército.
“Por essa resposta, estava falando de uma ordem dirigida ao Alto Comando, não uma mensagem dirigida ao povo. E não era de uma ordem qualquer, era uma ordem que o Alto Comando não cumpriria”, cita um trecho do documento.
Ao encerrar o depoimento de Lawand, o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), questionou a verossimilhança do testemunho do coronel: “O tempo inteiro, eu achei, eu entendi que o senhor estava faltando com a verdade, mas fiz de tudo para manter o meu lado legalista de não poder interpretar, de acordo com o meu sentimento e não com a prova material para comprovar, que o senhor estava faltando com a verdade”, afirmou. Portanto, os parlamentares solicitam agora que um procurador da República análise o caso e inicie uma investigação sobre o suposto crime de falso testemunho.
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