Ano passado foi difícil para todo mundo, não apenas em termos sanitários, mas também no que tem a ver com a situação econômica. As medidas de restrição dispostas para conter os contágios do Covid-19 trouxeram também efeitos prejudiciais como o fechamento de comércios e indústrias, taxas elevadas de desemprego, e a consequente queda nos ingressos na maioria das famílias brasileiras.
Nesse contexto, foram muitas as pessoas que tiveram a necessidade de solicitar um empréstimo até para cobrir as despesas do dia a dia. De acordo com o Banco Central, do total das pessoas que procuraram créditos no ano passado, mais da metade (53%) precisava de capital para quitar dívidas pendentes.
O anterior é um dado preocupante, pois se endividar novamente para pagar uma dívida mais velha pode gerar o risco do endividamento constante, geralmente com piores condições de contratação (ex. incremento nas taxas de juros pelo risco de inadimplência), sendo cada vez mais difícil sair dessa situação e acabar com o nome negativado.
Acontece que, para poder tomar um crédito com tranquilidade, é preciso ter certa previsão de que a pessoa irá contar com o dinheiro para pagar as parcelas no futuro. Só que, como já foi dito, foram muitos os cidadãos que perderam as suas fontes de ingressos (salários, ganâncias dos empreendimentos, etc.). Para esses casos, é muito importante contar com algum tipo de poupança para fazer frente a situações extraordinárias como as vivenciadas no ano passado.
Lamentavelmente, não são muitos os lares que conseguem salvar dinheiro no final do mês. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha: mais da metade dos brasileiros das classes A, B e C entrou em 2021 sem R$1 guardado. Ou seja, em 2020 55% dos entrevistados não guardaram nenhum dinheiro e nem tinham reservas de anos anteriores. Do total de pessoas impossibilitadas de poupar prevalece a classe C.
E o endividamento em 2021?
Este ano a situação não melhorou, bem pelo contrário, parece continuar piorando. Segundo dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de brasileiros endividados bateu novo recorde em agosto, com 72,9% das famílias registrando algum tipo de dívida. No mês anterior o percentual tinha sido de 71,4%. Desde que a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) foi inaugurada pela CNC, em 2010, este tem sido o maior percentual registrado.
A proporção de famílias com dívidas está 5,5% acima dos dados do ano passado, e superou em 7,8 pontos percentuais se comparado com os níveis pré-pandemia (fevereiro de 2020).
Em relação às causas, a precariedade do mercado de trabalho e a inflação são algumas delas, mas a CNC também destaca que o crédito mais acessível, com taxas de juros ainda relativamente baixas, contribuiu para um maior endividamento no primeiro semestre de 2021. Nesse sentido, contrair empréstimos, principalmente quando eles oferecem boas condições, não é ruim, mas exige de um bom planejamento no orçamento familiar para que o alívio atual não vire problema na hora de cobrir as parcelas.