Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para concorrer às eleições presidenciais deste ano contra o atual presidente Jair Bolsonaro, o candidato da esquerda busca por um companheiro de chapa presidencial, que poderá ser um antigo adversário.
A estratégia de Lula na chapa presidencial
A decisão de Lula de convidar Geraldo Alckmin para se juntar a ele na chapa presidencial, provavelmente será anunciada formalmente no início de abril, é a indicação mais evidente da estratégia de campanha de Lula de alcançar eleitores centristas e se projetar como um candidato moderado.
“Ser adversário não é o mesmo que ser inimigo”, disse Lula sobre Alckmin em entrevista a uma rádio local. “Se construirmos uma aliança e vencermos as eleições, tenho certeza que podemos ter um grande governo”.
De acordo com Antonio Lavareda, sociólogo brasileiro, cientista político e diretor executivo da MCI Strategy, Lula e Alckmin se complementam muito, enquanto o ex-governador vê a aliança como uma chance de retomar o poder após seu péssimo desempenho eleitoral em 2018, Lula pretende mostrar que está liderando uma frente unida contra Bolsonaro.
A aliança com Geraldo Alckmin
Geraldo Alckmin, de 69 anos, é membro fundador do Partido da Social Democracia Brasileira, que governou o país por oito anos até 2002. O político, conhecido por seu jeito manhoso, chegou mais perto da presidência em 2006, quando foi vice-campeão na corrida que deu a Lula seu segundo mandato.
Ele tentou novamente em 2018, chegando em um distante quarto lugar, o pior desempenho de seu partido em uma votação presidencial. Desde então, Alckmin estava afastado do cenário político até encerrar uma parceria de três décadas com seu partido e abrir negociações com seu ex-concorrente.
Importância da união da chapa presidencial
A aliança, que está em andamento há meses, pode reenergizar a carreira política do ex-governador de São Paulo, o estado mais populoso do Brasil. Além disso, a associação de Alckmin é vista por investidores e analistas como um sinal de que Lula está se afastando de membros radicais de seu Partido dos Trabalhadores e se aproximando de visões econômicas mais moderadas, que o ajudariam a conquistar a elite empresarial e financeira do país.
Mesmo com o ex-governador perdendo influência nos últimos anos, o efeito Alckmin, usado por políticos brasileiros para explicar como a incorporação de sua candidatura agrega credibilidade a Lula, reduziu a resistência política a outro possível governo do Partido dos Trabalhadores, que terminou mal em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff.
A decisão de Alckmin é significativa, já que ele precisava se filiar a um partido disposto a apoiar Lula na votação de outubro. Enquanto isso, o Partido da Social Democracia Brasileira escolheu o atual governador de São Paulo João Doria como seu próprio candidato.
Radicalizações vêm diminuindo
Um número crescente de gestores de fundos, como Luis Stuhlberger, que apoiou Bolsonaro em 2018, disse que não espera que Lula governe como um radical. Lula também parece estar se apegando à ideia de um Banco Central independente.
Além disso, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse que os temores do mercado de uma vitória de Lula estão diminuindo. Com isso, o PT espera que a adição de Alckmin à pauta consolide essa tendência.