Nos últimos 35 anos, as áreas mais preservadas do Brasil foram aquelas pertencentes aos indígenas. Isso é o que mostra um levantamento divulgado nesta sexta-feira (27) pela organização MapBiomas com base em imagens de satélites e em inteligência artificial.
De acordo com o estudo, de 1985 a 2020, esses territórios, sejam eles demarcados ou ainda em fase de demarcação, registraram um desmatamento e uma perda de floresta de somente um 1,6%.
Segundo Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, se o Brasil quer ter chuva para abastecer os reservatórios que provêm energia e água potável para consumidores, indústria e o agronegócio, é necessário preservar a floresta amazônica.
Nesse sentido, ele revela, as imagens de satélite feitas durante o levantamento não deixam dúvidas: quem melhor faz isso são os indígenas. Ainda segundo o coordenador, apensar de serem os defensores mais eficientes das florestas, os povos indígenas possuem apenas 13.8% de todas as terras do país.
Isso equivale, conforme os dados do Instituto Socioambiental (ISA), a 722 terras indígenas. Dessas, desde 1988, somente 487 foram homologadas, sendo o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o primeiro, desde a promulgação da Constituição, a não demarcar nenhuma área indígena.
O outro lado
Apesar da boa notícia de que os indígenas protegem suas terras como ninguém, o levantamento mostra que essa realidade não se estende ao restante da população. Isso porque, de acordo com o estudo, nos últimos 35 anos, apenas três dos 27 estados não perderam vegetação nativa.
Segundo os dados, o destaque negativo fica com os seguintes estados:
- Rondônia (-28%)
- Mato Grosso (-24%)
- E Maranhão (-16%).
Esses estados, campeões de desmatamento, têm algo em comum: todos têm em seu território uma parte da Amazônia Legal, que no primeiro semestre deste ano, assim como mostrou o Brasil123, teve a maior área sob alerta em seis anos. Outro dado interessante no levantamento é que, dos estados brasileiros, somente o Rio de Janeiro e o Espírito Santo foram na contramão da maioria e registraram aumento em suas áreas de vegetação nativa, um pouco mais de 1%.
Pastagem representam um quinto do território
Inversamente proporcional às áreas verdes, as pastagens no Brasil veem aumentando nos últimos anos e já representam o principal uso da terra no país – um quinto do território nacional.
Vegetação nativa no Brasil
Apesar do desmatamento desenfreado, o Brasil tem 66,3% de vegetação nativa. Todavia, segundo o levantamento, essas áreas não são, necessariamente, áreas preservadas. Segundo Tasso Azevedo, uma boa parte da vegetação nativa passou, nos últimos anos, por um processo de degradação ou está se regenerando após longos períodos de desmatamento. Sendo assim, de acordo com ele, saber distinguir essa diferença é um dos intuitos daqui em diante do projeto. “Aprofundar o entendimento destes processos de degradação é um dos focos atuais do MapBiomas”, afirma.
Desmatamento: primeiro semestre teve maior área sob alerta em 6 anos na Amazônia