De acordo com a revista L’Obs, há mais de dois séculos uma família resolveu viver quase totalmente isolada do restante do mundo. Isso porque, a comunidade em questão decidiu seguir rígidos conceitos católicos que se tornaram tema de um livro lançado recentemente, após uma investigação que durou mais de um ano.
Intitulado de Enquete sur La Famille, une myestérieuse communauté religieuse (Investigação sobre A Família, uma misteriosa comunidade religiosa) e assinado pela jornalista Etienne Jacob, que se interessou e se aprofundou no tema após revelada a existência dessa família no mês de junho do ano passado. Desde então, ele se empenhou para entender como esse grupo formado entre três a quatro mil pessoas funciona.
Conforme apurado, a saga teve início no ano de 1819, época em que dois cristãos fundamentalistas decidiram que suas famílias não deveriam se misturar com o resto da população. Nitidamente abertos à prática denominada de ‘jansenismo’, um movimento teológico que se opõe aos jesuítas, família que defende fervorosamente a endogamia, ou seja, o relacionamento exclusivo entre pessoas do mesmo grupo.
O grupo também acreditava que o fundador, François Bonjour, retornou à terra para salvar as ovelhas deles, acontecimento que deve se passar na rua de Montreuil, no leste da capital francesa. Este é o motivo pelo qual quase todos os membros dessa comunidade moram na mesma região, pois estão à espera do mestre deles.
O estilo de vida dessa família era bem discreto, até os médicos começarem a identificar um aumento estrondoso nos casos de bebês portadores de doenças causadas pela consanguinidade. Um ponto que ajudou a sociedade geral a tomar conhecimento sobre esta comunidade foi o abandono de um dos membros que, em seguida, fez uma denúncia ao órgão do governo parisiense responsável pela formação de seitas no país.
Deste momento em diante a jornalista deu início às investigações, nas quais conseguiu entrevista 40 ex-membros desta comunidade, que ou foram expulsos quando ousaram se casar com pessoas de fora, ou que partiram por vontade própria. “No início dos anos 2000 muitos deixaram o grupo, certamente por causa do desenvolvimento da internet, que tornou mais simples uma abertura para o mundo exterior”, explica o livro.
No entanto, os parisienses que decidiram continuar com este estilo de vida em uma comunidade única, pararam no tempo, a 50 anos atrás. Estagnados em um modelo de sociedade machista focada na heterossexualidade paterna, essas pessoas ainda cultivam famílias numerosas e expressamente contra relações homoafetivas.
No entanto, devido à noção de solidariedade representada pela ajuda aos próximos até e após a morte de entes queridos, a comunidade possui pontos positivos. A gigante família, também não pode ser considerada como uma seita do ponto de vista legal, tendo em vista que não tentam recrutar novos membros, muito pelo contrário, são restritos a si mesmos. No entanto, dentro dos núcleos familiares o autoritarismo dos pais reina.
Neste sentido, devido aos altos registros de casamentos entre primos, tios e demais parentescos, o índice de pessoas com deficiência auditiva, déficit intelectual ou síndrome de Bloom também é extremamente alto.
A doença que é extremamente rara, se manifesta, entre tantas outras características, através do nanismo, que atinge um em cada um milhão de pessoas. No caso dessa família de 20 a 30 membros possuem as mesmas características entendidas como uma forma de anomalia.