Ao fazer uma análise do cenário das próximas eleições presidenciais, em 2022, o jornalista Glenn Greenwald disse temer um conflito entre facções armadas. Ele acredita que até mesmo a polícia militar poderia se envolver nos protestos de rua caso Jair Bolsonaro (sem partido) seja derrotado nas urnas. Segundo Greenwald, “estou especulando, mas meu medo é que não vai ser um golpe puro dos militares. Pode ter um conflito violento entre facções armadas na rua, em todo lugar, o que cria violência, falta de estabilidade política e social”.
Durante a declaração, o jornalista explicou que “a coisa que me deixa mais preocupado, a pergunta que tenho colocado para todos é a mesma que todos têm: qual seria a postura do militar se Bolsonaro tentasse fazer golpe, se perder eleição e não quiser sair do cargo?”. Ele também admitiu que “é perigoso quando precisamos perguntar isso, nunca queremos uma situação em que se depende da postura militar. Nos EUA sabíamos que os militares nunca permitiriam golpe pelo Trump”.
Conflito entre facções armadas no Brasil e nos Estados Unidos
Para sustentar seu argumento Greenwald relembrou a derrota de Donald Trump nas últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o que incitou manifestantes a invadirem o Capitólio no começo desse ano.
A invasão ocorreu após o discurso do presidente Trump fora da Casa Branca. Na ocasião, o Congresso iniciava uma sessão conjunta para confirmar Joe Biden como o próximo presidente do país. Os manifestantes pró-Trump passaram pela barreira policial em uma violenta tentativa de impedir o Congresso de certificar a derrota eleitoral de Trump em 2020. A multidão invadiu o prédio e forçou o encerramento da sessão durante a contagem dos votos do Colégio Eleitoral.
Apesar disso, ao falar sobre um possível conflito entre facções armadas, o jornalista não se esqueceu de que “aqui no Brasil é uma história completamente diferente, a democracia tem 35 anos, não 200 [como nos Estados Unidos], com instituições muito frágeis. Tenho perguntas. O Trump conseguiu 800 pessoas naquele dia [da invasão do Capitólio]. Acho que Bolsonaro tem milhares de fanáticos que iriam às ruas com armas, usando violência. Meu medo maior é que não vai ter golpe limpo como em 1964, mas poderia ter facções de polícia militar, e outras surgindo no [meio] militar, que podem criar desordem na sociedade”.
Greenwald declarou que, apesar de as instituições brasileiras estarem dando sinais de “muita resistência” aos ataques realizados pelo presidente, não se sabe se esse cenário será mantido caso ele não vença as eleições no ano que vem.
“Esse sempre era meu medo da presidência de Bolsonaro: qual capacidade as instituições têm para resistir ao autoritarismo de Bolsonaro? Fico surpreso que o Congresso, o STF [Supremo Tribunal Federal], a mídia e os cidadãos estão dando muita resistência, o que me dá conforto, mas há preocupações se podemos manter isso caso Bolsonaro perca as eleições, incitando os fanáticos dele de que foi fraude”, disse, acrescentando acreditar que “grande parte dos militares acredita na democracia”.