A jornalista Miriam Leitão, do jornal “O Globo”, publicou neste domingo (17) áudios que comprovam a existência de sessões de torturas durante o período da ditadura militar, ocorrido no Brasil de 1964 a 1985.
Ao todo, o conteúdo publicado pela jornalista tem incríveis dez mil horas de gravação, isto é, mais de um ano inteiro de áudio. Alguns pontos do material foram destacados e comprovam passagens perturbadoras ocorridas no regime.
Em um dessas gravações, um general que pede a investigação de um caso de uma grávida presa que sofreu aborto após passar por sessões de choques que incluíram a região de sua genitália.
Um outro áudio também revela que um ministro do regime havia obrigado um suspeito a confessar que havia roubado um banco. Ele confessou o crime depois de ter passado por sessões de marteladas enquanto estava preso.
De acordo com Miriam Leitão, o material, que pertence ao Superior Tribunal Militar (STM), foi feito nos anos 70, considerada a época mais dura do governo militar. Nesse sentido, a jornalista explica, por exemplo, que o áudio da grávida foi gravado em 24 de junho de 1977.
Na ocasião, o general Rodrigo Octávio Jordão Ramos denunciou o caso e citou a palavra “tortura” em seus relatos. “Fato mais grave suscita exame, quando alguns réus trazem aos autos acusações referentes à tortura e sevícias das mais requintadas, inclusive provocando que uma das acusadas, Nádia Lúcia do Nascimento, abortasse após sofrer castigos físicos no Codi-DOI”, diz.
“A mulher inclusive sofreu um aborto no próprio Codi-Doi em virtude de choques elétricos em seu aparelho genital, fato ocorrido no dia 8 de abril de 1974 […] na verdade não participou de qualquer ação delituosa, nem mesmo estava ligada ao MR8, e que se por acaso for considerada responsável por aquilo que disse, pede que seja tomada em consideração o fato, como salientou, não aguentava mais a pressão à qual fora submetida e até mesmo coação”, disse o general na ocasião.
Ainda de acordo com o denunciante no áudio, a mulher desejava esclarecer suas atitudes, pois estava grávida de três meses ao ser presa e tinha receio de perder o filho. “O que veio a acontecer no dia 7 de abril nas dependências da Oban”, explicou o general.
Por outro lado, o material em que o ministro Amarílio Lopes Salgado revela as “marteladas” em um suspeito foi gravado no dia 15 de junho de 1976. “Vou dar uma cópia para o procurador-geral porque esse moço apanhou um bocado, baixou hospital, e citou o nome das duas pessoas que martelaram ele”, afirma o general, completando ainda que “martelaram esse moço, daí a confissão dele”.
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