Um estudo português vem deixando os donos de cães em alerta. Isso porque, de acordo com microbiologista Juliana Menezes, da Universidade de Lisboa, existe um gene nos cachorros que pode oferecer resistência às bactérias, inclusive, de antibióticos como a colistina.
A colistina é um poderoso antibiótico usado como último recurso no caso de ineficácia de medicamentos.
Apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, este estudo foi baseado na análise de aproximadamente 100 cães e gatos. Dentre esses números, 12 apresentaram resistência à colistina, também conhecida como polimixina.
O gene
Ainda de acordo com o estudo, o gene que pode oferecer resistência a bactérias é o MCR-1. Ele, inclusive, foi identificado tanto nos animais analisados, quanto nos seus tutores. Estes, apresentavam lesões na pele associadas à bactéria E. Coli, geralmente localizada no intestino de pessoas saudáveis, mas que podem causar ocasionalmente infecção no trato digestivo ou urinário.
A transmissão do gene MCR-1 pode acontecer caso os infectados entre em contato com outros humanos, cães e animais. Diante disto, os cientistas temem o surgimento de “reservatórios domésticos” dessas características resistentes a múltiplos antibióticos.
O grande risco desta condição é que este gene evolua para outras bactérias, que já são resistentes a outros antibióticos, originando micróbios talvez intratáveis.
Dentre as prováveis hipóteses para o surgimento do gene MCR-1 é a alimentação, visto que análises genéticas dessas bactérias resistentes descobertas nas rações apontaram semelhanças com superbactérias encontradas em pacientes hospitalares.
Diante disto, atualmente a única maneira de prevenir este acontecimento seria a revisão da escolha de matérias-primas, de práticas de fabricação e da higiene em um crescente setor de alimentos em todo o mundo.
Vale lembrar, que além dos cães, outros animais como porcos e frangos tiverem o gene, que oferece resistência à insulina detectados em análises chinesas, inclusive, carnes cruas.
Se bactérias se tornarem completamente resistentes a tratamentos pode surgir uma pandemia pós-antibiótico, causando diversas mortes, já que as infecções bacterianas eram a principal causa de morte no planeta, antes da invenção desses medicamentos.
O que fazer?
Além do cuidado a mais em relação com o setor de alimentos de todo mundo, especialistas alertam que outra medida seria o uso controlado de antibióticos.
Isso porque o uso excessivo de antibióticos aumenta a resistência às bactérias, incluindo, o uso veterinário.
A resistência bacteriana, como a de colistina, por exemplo, vem apresentando mutações que podem ser facilmente compartilhada entre outras bactérias. Isso faz com que elas consigam enfrentar situações adversas, sendo uma delas a transferência horizontal de genes, que faz com que bactérias de diferentes espécies troquem DNA.
Estima-se que a resistência aos antibióticos causa 700 mil mortes a cada ano e que esse número aumentaria para 10 milhões de mortes por ano até 2050.
A falta de pesquisas de novos medicamentos e o uso desperdiçado dos já existentes, também agrava essa preocupação entre os pesquisadores.
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