Na França, a Igreja Católica quebra a fronteira ao reconhecer publicamente a dimensão dos efeitos provocados pela pedofilia praticada por líderes religiosos em uma série histórica que vai até meados de 1950. O tema foi tratado em uma edição da Conferência de Bispos, na qual foi tomada uma decisão inédita.
Os católicos denominam a situação como uma “responsabilidade institucional” de combate a essas práticas, sempre incluindo a palavra “indenização” como uma penitência que deve ser paga por 216 mil vítimas, todas identificadas no período mencionado.
Segundo o presidente da Conferência, Eric Moulin Beaufort foi contundente ao relatar o encontro permitiu chegar a uma profunda compreensão com o propósito de consertar o sistema eclesiástico pervertido, permitindo que os fatos dessa gravidade não fossem divulgados.
O resultado imediato decisão consiste na criação de uma instância nacional independente, chefiada por uma mulher, a jurista Marie Derain de Vaucresson, irá supervisionar nove grupos de trabalho de mediação entre as vítimas de pedofilia e os arquivos das dioceses, independente de os crimes estarem prescritos ou não.
Foi então que neste ano começou a vigorar um tribunal nacional penal canônico, com previsão de votação junto a um sistema de verificação sistemática de todos os agentes pastorais do país por meio de protocolos das cortes locais.
Para que fosse possível reunir fundos consideráveis em prol de arcar com os custos da indenização das vítimas de pedofilia, a Igreja Católica colocará à venda uma parte das riquezas e bens mobiliários e imobiliários. A estimativa é para que juntos, todos os itens girem em torno de R$ 500 milhões de euros.
A reação polêmica dos bispos ocorreu logo após a divulgação do relatório da Comissão Independente sobre os abusos sexuais que aconteceram dentro da Igreja Católica. Dois anos após um longo e trabalhoso processo investigativo presidido por Jean Marc Sauvé, de 72 anos de idade, explicou a maior parte do modo de ser da sociedade francesa.
A equipe de Sauvé entrou em contato diretamente com, aproximadamente, 3.500 vítimas de pedofilia, das quais 250 resultaram em extensas entrevistas que tiveram o papel de nortear as pesquisas. Foram registrados depoimentos dolorosos e extremamente difíceis, tendo em vista que forçaram as vítimas a reviverem o trauma, além de compartilhar um segredo tão íntimo e, até mesmo, culpa em casos específicos. É o que diz Christian Dubreuil, um dos entrevistados que abriu mão do anonimato em prol da causa.
“As vítimas de crimes de pedofilia estão na sombra, dentro de uma cripta, uma gruta. A criança é condicionada pelos seus próximos e pela sociedade a não falar. São mudos, falando com surdos”.