Um levantamento recente feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), apontou que a fome no Brasil já atinge 24,5 milhões de brasileiros. Este é o número de cidadãos que passam 24 horas ou mais sem se alimentar, nem mesmo ter a certeza de que conseguirão comer alguma coisa no dia seguinte.
Enquanto isso, outros 74 milhões estão inseguros se também irão enfrentar essa mesma situação. A pesquisa se refere a dezembro de 2020, época em que mais de 55% dos brasileiros já sofriam com algum tipo de insegurança alimentar, seja ela leve, moderada ou grave. Os dados foram obtidos mediante a amostra de 1.662 domicílios urbanos e 518 rurais, lembrando que este tipo de levantamento costuma ser feito a cada quatro anos.
Neste levantamento foi possível observar que nas regiões onde há uma maior concentração da população em situação de vulnerabilidade social, no Norte e Nordeste do país, a fome no patamar de insegurança grave atinge entre 18% e 14% dos domicílios, respectivamente. Enquanto isso, a média nacional é de 9%.
Enquanto isso, na região Centro-Oeste, popularmente conhecida como o “celeiro do Brasil”, abriga um terço das famílias que sofrem com o grau moderado de fome. De acordo com o coordenador da Rede Penssan, Renato Maluf, a pesquisa será feita novamente este ano, desta vez, pesquisando a situação em sete mil municípios brasileiros. “Antes mesmo da pesquisa, esperávamos o agravamento do quadro. Mas não que fosse tão profundo”, declarou.
A principal razão para este acontecimento é o alto índice da taxa inflacionária. A pesquisa foi capaz de mostrar que 64% dos alimentos que normalmente são consumidos pelos brasileiros passaram por um reajuste abusivo no preço. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve um aumento de 1,16% em setembro deste ano, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este é o patamar mais alto que a inflação já atingiu desde o Plano Real, lançado no ano de 1994, responsável por extinguir a superinflação. Porém, ao observar o acumulado de 12 meses, a inflação já chegou a 10,25%. Mesmo diante de toda a precariedade, foi possível encontrar uma maneira de driblar a fome. Trata-se do aumento no consumo de alimentos hiperprocessados e de baixo teor nutricional.
Esta foi a maneira encontrada por milhares de brasileiros para não ficar à míngua. De acordo com o Instituto Datafolha, este tipo de consumo aumentou de 9% para 16% entre adultos na faixa etária de 24 a 55 anos de idade. A insegurança alimentar estava em queda no Brasil desde 2004, mas voltou a crescer 10 anos mais tarde. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV) Social, desde 2014, o real rendimento domiciliar per capita do trabalho caiu de R$ 249 para R$ 172, na média da metade da população em situação de pobreza. A inflação acumulada de 2014, até hoje, beira 50%.
Por essa entre outras razões, os parlamentares tentam estabelecer medidas de combate ao agravamento da fome no Brasil. Um conjunto entre especialistas e parlamentares ressalta que 59,3% dos brasileiros, o equivalente a 125,6 milhões de pessoas, não consumiram uma quantidade adequada e de qualidade de comida desde o início da pandemia da Covid-19.
Os dados foram apresentados na pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, realizada pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília.
No Plenário, o deputado Roberto de Lucena (Pode-SP), bem como o presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP-AL), reconheceram que a fome no Brasil atingiu os mesmos índices registrados pelo IBGE no ano de 2004. O parlamentar fez questão de ressaltar que este problema não está relacionado à falta de alimentos, tendo em vista que o ramo de agronegócio e de agricultura familiar no Brasil crescem cada vez mais.
O problema tem relação com a desigualdade social e econômica do país, junto à queda na promoção de vagas de emprego combinado ao aumento da inflação. A taxa inflacionária tem provocado aumentos absurdos nos alimentos, gás de cozinha, combustível e conta de luz.