Uma pesquisa recente feita pelo Instituto Datafolha aponta que metade dos alunos matriculados nas escolas da rede pública de ensino do Brasil têm o aprendizado afetado pela falta de acesso à internet. Sem uma conexão decente à internet ou conexão nenhuma, os alunos têm dificuldade de estudar, sobretudo, em meio à pandemia da Covid-19 onde o ensino remoto foi implementado à rotina escolar.
O levantamento foi encomendado pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento. O estudo tem por objetivo analisar como as famílias brasileiras avaliam a educação presencial durante a crise sanitária. O acesso a computadores com conexão à internet aumentou pontualmente desde o início da pandemia da Covid-19. Na primeira das sete pesquisas conduzidas pelas entidades envolvidas e realizada no mês de maio do ano de 2020, 42% dos alunos tinham livre acesso.
Hoje, este percentual foi elevado para 49%. Em contrapartida, 51% das famílias que participaram da pesquisa alegaram que continuam enfrentando este problema. Porém, mesmo com a breve melhoria, o índice ainda é considerado insuficiente, além de ser um problema “urgente” em virtude do aumento significativo da desigualdade educacional do país. Também é preciso levar em conta o fato de que as escolas continuam cada vez mais dependentes dos meios digitais, mesmo com o retorno gradativo das aulas presenciais.
Isso porque, durante mais de um ano as aulas remotas foram habituadas à rotina dos estudantes brasileiros. Neste período, o celular foi o aparelho mais utilizado pelos alunos das famílias entrevistadas, 85%, para acessar a internet e, por consequência, as aulas e as atividades. Além do mais, um terço desses alunos precisaram dividir o uso dos aparelhos junto a outros membros estudantes dentro de uma mesma família.
Esta realidade já havia sido observada pelo professor Marcelo Martins, que leciona em escolas da rede pública de ensino e também privada de um cursinho preparatório na comunidade carente da Vila Cruzeiro, situada na zona norte do Rio de Janeiro. “Nunca teve conectividade aqui. É precário, desanimador”, declarou.
Dos 33 alunos do cursinho, aproximadamente 20 contaram com apenas um celular para acompanhar as aulas desde o início da pandemia da Covid-19, muito menos, tinham um aparelho somente para ele. O professor conta que alguns alunos precisavam intercalar o uso do celular para os estudos junto a outros dois irmãos.
Já uma média de outros dez alunos possuíam computadores em casa, mas em condições precárias para suportar a demanda da aula online. Enquanto isso, outros três não tinham nenhum aparelho para acompanhar as aulas e todos alegaram problemas de conexão à internet.