Para Ricardo Galvão, ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o anúncio da parceria do governo federal com o bilionário sul-africano Elon Musk, presidente-executivo da SpaceX e da fabricante de carros elétricos Tesla, não passou de um “jogo de cena”.
Assim como publicou o Brasil123, o acordo prevê o lançamento de um programa de “monitoramento ambiental” de queimadas e desmatamento da Amazônia implementado pela empresa, que tem sede nos Estados Unidos.
“A Starlink pediu autorização para lançar 30 mil satélites para Comissão Federal de Comunicações, nos EUA, e a NASA protestou. A NASA colocou vários protestos, que a Starlink não respondeu porque esses satélites que eles estão colocando vão representar um perigo enorme para os satélites que existem no espaço”, relatou o ex-presidente do Inpe em entrevista ao canal “GloboNews”, na noite de sexta-feira (20).
Após fazer o comentário, ele questionou sobre o fato de que, enquanto autoridades americanas protestaram sobre os satélites, o governo brasileiro simplesmente dsse que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou o projeto.
“Então, a NASA está protestando e o governo brasileiro, enquanto a Comissão Federal de Comunicações nos EUA desaprova o projeto, diz que a Anatel aprovou. Quem que estudou isso? Eles chamaram a agência espacial brasileira, algum especialista? Não fizeram. É só um jogo de cena politico do presidente”, disse Galvão à GloboNews.
Ainda conforme Ricardo Galvão, os satélites de Musk não vão ajudar com o desmatamento da Amazônia “de nenhuma maneira”. Isso porque, segundo ele, esses “satélites são para internet” e não para monitorar a questão.
Por fim, o ex-presidente do Inpe, que foi exonerado em 2019 após ter publicado dados de que o desmatamento na Amazônia cresceu 88% em junho daquele ano, o primeiro de Bolsonaro no poder, em comparação com o mesmo período do ano anterior, criticou a gestão atual do governo, dizendo que foram cortados investimentos relacionados à tecnologia como “todo o programa espacial que o Inpe desenvolvia nos satélites”.
Acordo entre Elon Musk e governo brasileiro ainda sem informações
O acordo entre o empresário Elon Musk e o governo brasileiro, que prevê o fornecimento de “tecnologia avançada” de “monitoramento” para “a preservação da floresta amazônica” e também a distribuição de internet para 19 mil escolas isoladas foi anunciado, mas sem assinatura de contrato ou abertura de licitação.
De acordo com o governo, o Brasil não dará acesso a informações privilegiadas sobre a Amazônia dentro do acordo com o empresário, que não disse nada sobre os investimentos que pretende fazer no país. Por conta dessa falta de informação, a deputada Perpétua Almeida (PC do B) pautou uma audiência pública para que o acordo seja analisado.
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