Natalicia Tracy, ex-doméstica no Brasil, se mudou para os Estados Unidos da América (EUA) no ano de 1989. Na época ela trabalhava na casa de uma família brasileira na cidade de Boston, onde foi submetida a condições similares à de escravidão.
Com o passar do tempo ela conseguiu se livrar desta espécie de prisão, aprimorou os conhecimentos e ingressou na carreira política ao se tornar líder trabalhista e acadêmica com PhD. Agora, ela assumiu o cargo de conselheira sênior para a Agência de Saúde e Segurança Ocupacional (Osha) do Departamento de Trabalho do governo de Joe Biden.
A mulher conta que o convite partiu de um representante da Casa Branca após reconhecer o empenho e experiência, tanto no âmbito profissional como pessoal. Vale mencionar que entre as atribuições profissionais de Tracy estão as atuações como líder de movimentos trabalhistas e de imigrantes, além de promotora de legislações direcionadas ao mesmo público.
Sua especialização acadêmica é de PhD em Sociologia, tendo sido professora na Universidade de Massachusetts em Boston. Natalícia também tem especialidade nas áreas migratória, social e de estudos do trabalho. A mulher ainda não foi autorizada a divulgar detalhes sobre o novo cargo, apenas informou que tem relação às funções desempenhadas por ela até então.
As primeiras iniciativas de Natalicia Tracy com a política foram há 30 anos atrás quando ainda morava na cidade de São Paulo. Aos 19 anos de idade, ela foi recrutada para acompanhar uma família brasileira durante o que seria uma temporada de dois anos em Boston. Nesse trajeto, ela ficou encarregada dos cuidados de uma criança de dois anos de idade, além de realizar todas as tarefas domésticas em uma jornada que começava às 06h e terminava às 23h.
Ela alega reconhecer que, perante as leis trabalhistas dos EUA, ela se encontrava em um trabalho escravo. A mulher também conta das condições e limitações impostas pela família, ao passar a noite em uma varanda fechada com cimento grosso apenas no chão.
Tracy também não era autorizada a receber cartas ou usar o telefone, nota-se que por medo de denunciar a família pelos maus-tratos, até mesmo porque, por diversas vezes ela ficou sem se alimentar após cozinhar para os donos da casa e não sobrar nenhum resto de comida para ela.
A alimentação escassa gerou problemas de saúde que se agravaram em uma doença sem tratamento, pois Tracy se recuperou às mínguas enquanto continuava a trabalhar para receber apenas US$ 25 para uma jornada de 90 horas semanais. Até mesmo naquela época, já era uma quantia muito pouca para o piso local.
Os dois anos prometidos para esta temporada em Boston acabaram, e a família voltou para o Brasil. No entanto, Tracy decidiu continuar nos EUA onde se casou com um norte-americano e, a partir daí, passou a ter melhores condições de vida.
Natalicia teve a oportunidade de se dedicar aos estudos, concluiu o ensino médio, cursou Psicologia e Sociologia, fez mestrado e PhD mediante a apresentação de estudos que vinculam a imigração, raça e família de classe. Em outras palavras, se aprimorou educacionalmente através de suas experiências de vida.
No ano de 2006 ela deu início a trabalhos como voluntária no Centro do Trabalhador Brasileiro, grupo de defesa dos direitos trabalhistas do qual se tornou diretora em 2010, Posteriormente recebeu o apoio da maior central sindical dos EUA, a American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations.
Lá, Tracy começou a articular junto a uma série de outras organizações com o propósito de aprimorar as leis estaduais voltadas ao trabalho doméstico norte-americano.