Pouco mais de um mês após pedir demissão do cargo de Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo fez uma série de postagens em uma rede social no final da manhã deste sábado (1º).
O ex-ministro vem adotando um tom crítico para atacar o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o ex-chanceler, o governo de Bolsonaro foi transformado em uma “administração tecnocrática sem alma nem ideal”.
Ernesto Araújo pediu demissão após meses de desentendimentos por conta da condução da política internacional do país durante a epidemia do novo coronavírus.
Parlamentares de diversos partidos e, especialmente, do chamado Centrão, pressionaram o governo para que Ernesto fosse substituído.
No dia 29 de março, em meio ao desgaste, Ernesto pediu demissão e deixou o governo.
Desabafos nas redes sociais
Em suas postagens no Twitter, Ernesto Araújo diz que o governo do presidente Bolsonaro teria feito “avanços”, mas a “esperança” teria começado a “desmantelar” por conta de uma suposta reação do “sistema”:
Ao eleger o PR Bolsonaro, em 2018, o povo brasileiro ganhou a chance de transformar o Brasil, de uma cleptocracia numa verdadeira democracia. Chegamos a avançar. Mas, a partir de meados de 2020, a reação do sistema, cavalgando a pandemia, começou a desmantelar essa esperança.
Em uma das postagens, Ernesto criticou as tentativas do governo de construir uma base parlamentar, o que teria dado mais poder ao Centrão, justamente um dos responsáveis pela pressão por sua demissão:
Um governo popular, audaz e visionário foi-se transformando numa administração tecnocrática sem alma nem ideal. Penhoraram o coração do povo ao sistema. O projeto de construir uma grande nação minguou no projeto de construir uma base parlamentar.
O ex-ministro afirmou não ter poupado esforços para buscar a preservação do que chamou de “visão original” do governo Bolsonaro:
Assisti a esse processo com angústia e inconformidade, e fiz o que pude, até onde pude, para preservar a visão original. Nisso estive quase sozinho. Vi confiscarem ao Presidente seu sonho, anularem suas convicções, abafarem sua chama. (Não deixei que abafassem a minha).
Em tom crítico, Ernesto disse que privatizações e a aprovação de reformas, duas das principais agendas do governo Bolsonaro, não seriam suficientes para promover uma mudança no país.
A fala foi feita em alusão ao livro Gattopardo, do escritor italiano Giuseppe Tomasi de Lampedusa:
Leilões, privatizações, reformas tributária e administrativa? Se não for combatida a essência do sistema, estas serão reformas “Gattopardo”: mudanças para que tudo permaneça igual. Nenhuma “articulação política” vai mudar o Brasil. Somente a pressão popular.
Apesar das críticas, o ex-ministro diz que continua apoiando Bolsonaro e fala em “oportunidade de recuperar a esperança”:
Hoje o povo brasileiro tem a oportunidade de recuperar sua esperança, ao pedir ao PR Bolsonaro simplesmente que ele volte a ser o Presidente eleito em 2018, aquele que prometeu derrotar o sistema, o líder de uma transformação histórica e constitucional, o portador de uma missão.
Ele finaliza afirmando acreditar no sonho de Bolsonaro de mudar o país:
Muitos desprezam o sonho do PR de mudar o Brasil. Eu, ao contrário, sempre acreditei, sempre estive e estarei com ele no seu amor pela liberdade e sua luta para libertar o povo de um sistema opressor. Com o apoio popular estou certo de que ele terá a força necessária para vencer.
As postagens foram feitas no mesmo dia em que militantes favoráveis ao presidente Bolsonaro realizaram manifestações em diversas cidades do país como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.