O ex-ministro Guido Mantega, responsável por integrar o grupo de planejamento, orçamento e gestão na equipe de transição para o governo de Lula, renunciou nesta quinta-feira (17) como parte integrante do grupo técnico. Em carta endereçada ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que está à frente da equipe, o ex-chefe da Fazenda destacou a intenção dos opositores de “atrapalhar” e “criar dificuldades para o novo governo” como o motivo de sua renúncia.
Quem é Guido Mantega?
Guido é o ministro da Fazenda mais antigo da história, sucedendo Lula em março de 2006 e servindo no governo de Dilma Rousseff até 2014. Durante o governo Lula, Mantega implementou medidas como corte de impostos e crédito em bancos públicos, cruciais para proteger o Brasil da crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2008. Assim, apesar da queda do PIB em 2009, a economia brasileira cresceu 7,5% no ano seguinte. Desse modo, sua presença na equipe de transição simbolizou um período em que ele estabeleceu as regras e adotou políticas desenvolvimentistas que levaram ao alto crescimento econômico e à queda acentuada do desemprego.
Nem tudo são flores
Contudo, é importante destacar que, no governo Dilma, o ministro da Fazenda lançou um pacote de medidas conhecido como Nova Matriz Econômica, que incluía políticas de juros baixos, câmbio desvalorizado e aumento dos gastos públicos. O objetivo era aumentar a produtividade da indústria, mas muitos economistas apontam essas medidas como a raiz da crise econômica de 2014, que levou ao descontrole das contas públicas, preços persistentemente altos e desrespeitos aos contratos do governo.
Como resultado, desde a indicação do ex-ministro como parte da equipe de transição, o novo governo vem sofrendo uma grande resistência de setores do mercado financeiro, que não esqueceram dos estragos causados na economia brasileira.
Guido Mantega fora de ministérios
Durante a campanha de Lula, o nome de Guido Mantega surgiu para assumir um ministério no novo governo. No entanto, Mantega já foi condenado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) pelas “pedaladas fiscais”, o que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, resultando na inabilitação do ex-ministro em assumir cargos públicos. Com isso, desde a vitória de Lula nas urnas, Guido Mantega é “colaborador voluntário” do grupo técnico de planejamento, orçamento e gestão do gabinete de transição, sem receber salário por suas funções.
Sobre a carta
Na carta de renúncia enviada ao vice-presidente eleito, o ex-ministro classifica como injusta a decisão do TCU que o afastou da vida pública. “Em face de um procedimento administrativo do TCU, que me responsabilizou indevidamente, enquanto ministro da Fazenda, por praticar a suposta postergação de despesas no ano de 2014, às chamadas pedaladas fiscais, aceitei trabalhar na equipe como colaborador não remunerado, sem cargo público, para não contrariar a decisão que me impedia de exercer funções públicas por oito anos”, diz ele.
“Mesmo assim essa minha condição estava sendo explorada pelos adversários, interessados em tumultuar a transição e criar dificuldades para o novo governo”, complementa. Por fim, Guido Mantega afirma que aguarda a suspensão dos atos praticados pelo TCU por meio de decisão judicial. “Estou confiante de que a Justiça vai reparar esse equívoco, que manchou minha reputação”, escreve o ex-ministro.