O Ibovespa iniciou o segundo semestre de 2021 no vermelho. A saber, o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira caiu 3,94% em julho, encerrando o mês aos 121.800 pontos. E isso já era esperado, inclusive por este jornalista que vos escreve. Neste texto eu explicou o que poderia derrubar o Ibovespa no semestre.
Passado um mês, o texto não poderia ser mais atual. Na verdade, o índice sofreu com todos os desafios previstos, e ainda teve acréscimo de mais preocupações. E a primeira delas, que aflige o mundo desde março do ano passado, é a pandemia da Covid-19.
Em resumo, a crise sanitária parecia estar se encaminhando para o seu estágio final. O avanço da vacinação nos países elevava as esperanças de retorno à normalidade, mesmo o normal não sendo igual ao que conhecíamos. No entanto, a variante Delta voltou a elevar os casos e mortes em todo o mundo nas últimas semanas.
Esta variante é 50% mais transmissível que a cepa responsável pela maioria dos casos em 2020. A propósito, houve uma disparada de 80% dos casos mundiais provocados pelo novo coronavírus em julho. “Os ganhos obtidos ao longo de 2020 e 2021 estão sob ameaça ou sendo perdidos”, ressaltou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS.
Crise política interna preocupa investidores
Além disso, a CPI da Covid, que vem analisando os atos e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia da Covid-19, aumenta o desgaste do governo Bolsonaro. Não que isso defina se o Ibovespa subirá ou cairá, mas as incertezas políticas fortalecem as preocupações com o cenário doméstico.
Aliás, pra acabar o mês com chave de ouro, o presidente Jair Bolsonaro fez declarações sobre uma possível elevação do valor do Bolsa Família. De acordo com o presidente, o programa assistencial mais famoso do país deve ter um aumento de 50% em seu valor médio, que atualmente é de R$ 192.
O que motivou tais falas são as recentes pesquisas eleitorais. A saber, todas elas mostram um cenário cada vez mais difícil pra Bolsonaro, que vê sua popularidade derreter como gelo. Pra completar, o presidente, que esbravejava há tempos ter provas de fraudes nas eleições do país, deixou seus eleitores frustrados ao revelar que, na verdade, não tem prova alguma. Contudo, segundo ele, há indícios “fortíssimos ainda em fase de aprofundamento”.
Veja o que mais derrubou o Ibovespa em julho
Todas estas notícias fizeram o Ibovespa tombar em julho, primeira perda mensal desde fevereiro. A inflação nas alturas também fortaleceu o recuo do índice no mês. Em síntese, os investidores acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevará pela quarta vez seguida a taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
Na próxima semana, o Copom terá uma nova reunião. E a elevação da Taxa Selic acaba desaquecendo a economia, uma vez que esse movimento também puxa consigo os juros praticados no país. Com isso, a oferta de crédito fica limitada, pois a população precisará pagar mais juros pelos créditos adquiridos.
O Copom faz parte do Banco Central (BC), e é dever da entidade financeira buscar a meta para 2021, que é de 3,75%. No entanto, a prévia da inflação já acumula variação de 4,88% no ano, e os analistas do mercado financeiro acreditam que a taxa superará os 6,50% no ano. Por isso, o Copom vem elevando a Selic recorrentemente para tentar segurar a inflação.
Por fim, a CPI da Covid, que entrou em recesso na segunda metade de julho, voltará com as sessões na próxima semana. Ao mesmo tempo, a elevação da Selic torna a renda fixa mais vantajosa que as ações da bolsa, no geral. Tudo isso pode afundar ainda mais o Ibovespa, sem contar no avanço da variante Delta. Agora, é esperar pra ver se isso realmente vai acontecer.
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