Luiz Dominguetti acusa Luis Miranda (DEM-DF) de tentar negociar aquisição de vacinas contra a Covid diretamente com a empresa Davati Medical Supply. O empresário está fazendo seu depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (1º), e informou que teria recebido de pessoas do governo ofertas de “facilidades” para os contratos de vacinas.
“Muita gente me ligava dizendo ‘eu posso isso, eu posso aquilo’, mas eu nunca quis avançar nessa seara porque já tinha tido um processo todo doloroso dentro do ministério [da Saúde]. Nem eu, nem a Davati queria vivenciar isso de novo. Eu tenho informação que o parlamentar tentou negociar a busca da vacina diretamente com a Davati, eu tenho essa informação”, explicou Dominguetti.
Após essa afirmação, o senador Humberto Costa (PT-PE) perguntou ao empresário quem era o parlamentar citado, e o nome de Luis Miranda surgiu novamente na Comissão. Segundo diz Dominguetti, o deputado teria conversado diretamente com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, o qual considerava Miranda “o mais insistente com a compra e o valor de vacinas”.
Antes disso, Miranda e Davati já estavam em discussão na Comissão por conta de supostas irregularidades na compra dos imunizantes. A empresa Davati entrou no radar da CPI por conta de outras denúncias feitas por Luiz Dominguetti ao jornal “Folha de S. Paulo” e divulgadas na última terça (29). Após a acusação, Rodrigo Dias foi exonerado.
O empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos, que estava previsto para falar à CPI na reunião de hoje, teve a convocação adiada, sem nova data.
Depoimento de Luiz Dominguetti
Luiz Dominguetti, que também é Cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, se intitula representante comercial da Davati para negociações no Brasil. Segundo parecer da própria empresa, ele é um “vendedor autônomo”.
Em seu depoimento, Dominguetti fala à CPI que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Rodrigo Dias, pediu propina da empresa Astrazeneca. A negociação, intermediada pela Davati, previa US$ 1 por dose em um contrato de compra de 400 milhões de doses, o que geraria um montante ilícito de R$ 2 bilhões.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, declarou que “o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira a esta CPI é imperioso e imprescindível para o desenrolar da fase instrutória e, obviamente, para o futuro deslinde das investigações”.
Em nota, a AstraZeneca afirmou que não tem um intermediário no Brasil; Dominguetti negou ter convênio para venda da vacina da AstraZeneca.
Acusação de Luis Miranda
No dia 19 de março, o Deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Ricardo Luis Miranda, alertaram Bolsonaro sobre irregularidades na importação da vacina Covaxin. Ao receber a notícia, o presidente afirmou saber de um deputado governista que estava envolvido no caso. Ele disse que levaria a denúncia ao delegado-geral da Polícia Federal, mas a promessa nunca foi cumprida.
Ricardo Luis Miranda disse que encontrou diversos erros no pedido de importação, tais como: a Covaxin não tem aprovação da Anvisa para aplicação no país; o pagamento seria feito antecipadamente para uma terceira entidade que está localizada em um paraíso fiscal em Cingapura; o valor do pedido era de U$ 45 milhões por 3 milhões de doses da vacina Covaxin, muito acima do valor unitário enviado ao ministério.
Álibi
Em contrapartida, o CEO Cristiano Alberto Carvalho já se manifestou a respeito do depoimento de Dominguetti. Carvalho explicou: “eu recebi de outra pessoa, não diretamente do Luiz, não se refere a vacinas”. Para ele, Dominguetti está apenas “querendo aparecer” na CPI.
Além disso, Luís Miranda afirmou não conhecer Dominguetti, e se defendeu das acusações: “é mentira, lógico que não. Eu nunca falei sobre vacinas. Não sei nem quem é (Dominguetti). Estou começando a achar que esse cara foi enviado por (Jair) Bolsonaro para fazer denúncias mentirosas”.