Muitos nem devem se lembrar do dólar custando menos de R$ 5,00. Na verdade, a última vez que a moeda norte-americana estava cotada abaixo desse patamar foi em 30 de junho de 2021 (R$ 4,9728). Embora tenha despencado no último pregão do ano passado, a divisa encerrou 2021 com uma valorização firme de 7,47% ante o real.
Por falar nisso, faz cinco anos que a moeda brasileira não sabe o que é ter um resultado anual positivo. Em resumo, a desvalorização do real ante o dólar em 2021 é a quinta consecutiva. E, apesar de expressivo, o tombo é apenas o terceiro maior nesse período. Isso porque o real chegou a afundar 29,36% em 2021 e 16,92% em 2018.
No primeiro caso, a pandemia da Covid-19, decretada em março, impulsionou o dólar sem precedentes. Os investidores buscaram segurança na moeda americana e as divisas de países emergentes sofreram bastante. No Brasil, o conturbado cenário doméstico ajudou a enfraquecer ainda mais o real.
Já em relação a 2018, o que mais afetou a moeda brasileira foi a disputa eleitoral. O ano ainda ficou marcado pela alta de juros no cenário externo, provocando volatilidade cambial em vários países. Assim, o real não conseguiu evitar o tombo acumulado de quase 17% no ano.
Pandemia impulsiona dólar em 2021
Após a disparada de quase 30% em 2020, muitos chegaram a acreditar que o dólar teria desvalorização em 2021. Na verdade, dezembro de 2020 ficou marcado pelo início das aplicações das vacinas na população mundial contra a Covid-19 e o aumento do otimismo global. A expectativa era de melhora da crise sanitária no decorrer do ano passado, mas não foi isso o que aconteceu.
Apareceram outras variantes, como a Delta e a Ômicron, que frustraram os planos de quem acreditava no fim da pandemia em 2021. Aliás, o Brasil sofreu fortemente nos meses de março de abril com um aumento impressionante de casos e óbitos com a nova onda da pandemia. No entanto, os últimos meses do ano ficaram marcados pela queda vertiginosa desses números.
Isso até poderia fazer o real se fortalecer, mas os problemas domésticos não permitiram. Em suma, o mercado seguiu preocupado o ano inteiro com as contas públicas do país. A nova onda da Covid-19 fez o governo disponibilizar novas rodadas do Auxílio Emergencial.
Gastos públicos e inflação nos EUA também repercutem
Ao mesmo tempo, o governo se esforçou bastante para conseguir a aprovação da PEC dos Precatórios. A proposta abriu um espaço fiscal de R$ 106,1 bilhões para o governo gastar em 2022, ano eleitoral. Em síntese, a PEC adia o pagamento dos precatórios (dívidas da União já reconhecidas pela Justiça) e altera o teto de gastos (regra que limita as despesas do governo à inflação de 12 meses).
Por fim, o ano ainda ficou marcado pela anulação de todas as condenações do ex-presidente Lula pela Justiça Federal do Paraná. A inflação nos Estados Unidos também ajudou a fortalecer o dólar, pois pressiona o Federal Reserve (Fed), banco central americano, a aumentar os juros no país. Nesse caso, o dólar fica ainda mais atrativo para os investidores.
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