O dólar caiu em agosto e zerou os ganhos acumulados em 2021. Mas, antes que você pense que o real voltou a se valorizar, leia o texto até o final. Na verdade, uma combinação de fatores ajudou a nossa divisa no mês. No entanto, o futuro continua incerto e preocupante, ainda mais devido ao cenário doméstico, cada vez mais caótico.
Em resumo, o dólar recuou 0,37% nesta sexta-feira (31) e fechou o mês cotado a R$ 5,1697. No mês, a queda chegou a 0,77% e fez a moeda americana migrar para o campo vermelho. Assim, o dólar agora tem desvalorização de 0,34% ante o real em 2021.
Esses dados mostram que o recuo do dólar foi bem leve em agosto e que a sua cotação continua bastante elevada. Aliás, o otimismo externo que ajudou a enfraquecer a divisa no mês. A saber, os investidores ficaram animados com a queda de casos da Covid-19 no planeta nas últimas semanas de agosto.
Por falar nisso, a variante Delta do novo coronavírus vem preocupando os mercados globais há meses. Em suma, esta é a cepa mais transmissível e agressiva já sequenciada da Covid-19. A Delta está elevando os casos e mortes em todo o mundo, inclusive em países com altos percentuais de população imunizada. Por isso, a queda nesses números impulsionou o otimismo externo e enfraqueceu o dólar em agosto.
Declarações de Powell também influenciam cotação do dólar
Os últimos pregões do mês ficaram marcados pela expectativa e repercussão da participação de Jerome Powell no simpósio econômico anual de Jackson Hole (EUA). No evento, o presidente do Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, não sinalizou quando o banco reduzirá a compra de títulos públicos.
Essa falta de declarações foi vista como bom sinal pelos investidores. Uma vez que não há notícias sobre o fim dos estímulos, eles não deverão chegar ao fim antes do esperado. Powell ainda reafirmou que os juros no país só deverão subir em 2023, aliviando os operadores, que aproveitaram para vender seus dólares.
Embora esses fatores tenham ajudado a enfraquecer o dólar, a situação atual do Brasil fez exatamente o contrário. Preocupações com a inflação elevada continuam fazendo o Banco Central (BC) aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic.
Além disso, a Medida Provisória do novo Bolsa Família é mais uma preocupação, bem com a PEC dos precatórios. Para tentar ganhar votos para a eleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro vem elevando os gastos públicos. O mercado teme de onde o governo retirará dinheiro para financiar a turbinada do programa assistencial. Até porque a saúde fiscal do Brasil está ficando cada vez mais debilitada com todos esses problemas.
O real até conseguiu ter uma pequena valorização em agosto, mas graças ao exterior. Em setembro, os riscos com o avanço da variante Delta continuarão ditando a busca por ativos de risco. No mês, o BC também deve elevar mais uma vez a Selic, que tende a desvalorizar o dólar. Mas serão os riscos fiscais e políticos internos que farão o dólar cair mais ou voltar a se valorizar nos próximos pregões.
Leia Mais: População desalentada no Brasil atinge 5,6 milhões de pessoas