A escalada do dólar, apesar de anunciada há tempos, não deixa de assustar. Em 20 dias, a moeda americana conseguiu acumular uma valorização expressiva de 5,83% ante o real. Nesta quarta-feira (18), a divisa saltou 1,94% e fechou o pregão cotada a R$ 5,3751, bem longe dos R$ 5,0792 registrados em 29 de julho.
Com o resultado, o dólar passa a ter avanço de 3,17% em agosto e de 3,62% na parcial de 2021. Isso quer dizer que, em menos de três semanas, a moeda passou da desvalorização de mais de 2% para uma firme alta. E a expectativa é que os investidores sigam comprando cada vez mais dólares.
Em primeiro lugar, o cenário fiscal do Brasil se mostra mais debilitado do que nunca. A saber, o presidente Jair Bolsonaro contribui incansavelmente para isso. Adotando uma verdadeira guinada populista, muitos investidores temem que os gastos federais cresçam ainda mais nos próximos meses.
Para tentar aumentar seus votos, Bolsonaro já entregou à Câmara dos Deputados uma Medida Provisória que eleva o valor médio pago pelo Bolsa Família em, pelo menos, 50%. No entanto, o financiamento do novo programa assistencial virá dos precatórios, que são as dívidas do Poder Público determinadas pela Justiça.
Para isso, a equipe econômica do governo também encaminhou à Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o parcelamento de dívidas com valores a partir de R$ 450 mil. Dessa forma, a PEC dos Precatórios geraria uma ‘economia’ ao governo de R$ 33,5 bilhões, valor utilizado para turbinar o novo Bolsa Família. O problema é que esse montante precisará ser pago no futuro, o que debilita ainda mais a saúde fiscal do país.
Fed divulga ata da sua última reunião e influencia cotação do dólar
Além disso, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, divulgou nesta quarta-feira a ata da sua última reunião, realizada de 27 a 28 de julho. Em resumo, o documento revela que a meta de emprego estabelecida para o Fed reduzir o apoio à economia americana “pode ser alcançado este ano”.
Isso quer dizer que o banco deverá reduzir, antes do esperado, os estímulos que vem aplicando nos EUA desde o ano passado por causa da pandemia da Covid-19. Assim, a chuva de dólares, que cai desde 2020, está cada vez mais próxima do fim.
Atualmente, como há muitos dólares em circulação e a economia americana segue em forte recuperação, muitos investidores sentem segurança em vender suas moedas. Isso não está acontecendo no Brasil devido aos problemas internos. E, como a ata do Fed indicou um possível encerramento dos estímulos ainda em 2021, a tendência é que os operadores voltem a comprar seus dólares, tidos como porto seguro.
Por fim, vale ressaltar que a variante Delta do novo coronavírus segue aumentando o número de casos e mortes em todo o planeta. Na ata, o Fed cita a cepa, mas afirma que a economia norte-americana continua nos trilhos. Contudo, não há certezas sobre os próximos meses, que tendem a ser ainda mais difíceis para o real.
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