Após atingir o maior valor em mais de três meses na véspera (19), o dólar recuou 0,77% na sessão desta sexta-feira (20). Com isso, a moeda americana fechou a semana cotada a R$ 5,3803, o que representa alta de 2,58% em relação à última sexta-feira (13), quando a divisa encerrou a sessão a R$ 5,2452.
A saber, este é o terceiro resultado semanal positivo do dólar ante o real. Além disso, a moeda agora acumula valorização de 3,27% em agosto e de 3,72% na parcial de 2021. Aliás, nesta sexta, o que pressionou a queda da divisa foi a realização de lucros, visto que o dólar conseguiu resultados expressivos nas últimas sessões.
Nesta semana, os investidores continuaram preocupados com os riscos internos. Em primeiro lugar, a saúde fiscal do país não sai do radar do mercado. Os operadores temem que o aumento do valor do Bolsa Família, através do atraso do pagamento dos precatórios, deteriore ainda mais a situação fiscal do Brasil.
Em resumo, para tentar aumentar seus votos para as eleições de 2022, Bolsonaro entregou à Câmara dos Deputados uma Medida Provisória que eleva o valor médio pago pelo Bolsa Família em, pelo menos, 50%. O financiamento do programa assistencial virá dos precatórios, que são as dívidas do Poder Público determinadas pela Justiça.
Para isso, a equipe econômica do governo também encaminhou à Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o parcelamento de dívidas com valores mais elevados. Dessa forma, a PEC dos Precatórios geraria uma ‘economia’ ao governo de R$ 33,5 bilhões, valor que seguiria para turbinar o novo Bolsa Família. O problema é que esse montante precisará ser pago no futuro, o que debilita ainda mais a saúde fiscal do país.
Inflação continua escalando níveis bastante elevados
Ao mesmo tempo, não há como esquecer a inflação no país, que segue nas alturas. Para conter seu avanço, o Banco Central (BC) vem elevando a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, desde o início do ano. Em suma, uma Selic mais alta puxa consigo os juros praticados no país. Com isso, reduz o poder de compra do brasileiro, desaquecendo a economia e impedindo que os preços dos produtos e serviços continuem a subir.
No entanto, a cada elevação dos gastos públicos, maior fica a inflação. A conta é fácil: o governo está se endividando para aumentar o valor de um programa assistencial. Assim, parte da população terá mais poder de compra, o que fará a demanda continuar alta. Como a oferta dos produtos segue em ritmo mais fraco, muito por causa da pandemia, os preços tendem a subir.
O BC eleva os juros para segurar a inflação, visto que uma taxa inflacionária estável permite maior crescimento econômico, pois as incertezas do país diminuem. A meta para a inflação neste ano é de 3,75%, mas o valor pode chegar até 5,25%, que estará no limite superior definido. Contudo, economistas já projetam uma taxa superior a 7%. E quanto mais Bolsonaro pensa nas eleições, menos se importa com a economia do Brasil.
Incertezas com recuperação econômica global fortalecem o dólar
Por fim, como se os problemas internos não fossem suficientes, o mundo volta a enfrentar grandes desafios com a pandemia. A saber, a variante Delta, cepa mais transmissível do novo coronavírus, vem elevando os casos e mortes em todo o planeta há semanas.
Diversos países, que há pouco abrandaram suas medidas restritivas, voltam a endurecer as restrições para conter o avanço da Delta. E tudo isso ocorre apesar do crescimento de pessoas vacinadas. O que explica essa volta aos lockdowns é a transmissibilidade da variante associada à redução expressiva da eficácia dos imunizantes.
Segundo estudos, as vacinas existentes são eficazes contra a Delta. Entretanto, essa eficácia cai expressivamente a cada mês. Por isso, países já começam a aplicar uma nova dose de reforço nas pessoas que já estão imunizadas. O temor global é de nova estagnação econômica. E, se isso ficar ainda mais grave, o dólar tende a ficar ainda mais caro.
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