Há menos de dois meses, o dólar havia atingido a sua mínima no ano. Exatamente no dia 24 de junho, a moeda americana encerrava o pregão cotada a R$ 4,9034. Mas o mercado de câmbio é uma verdadeira montanha-russa e o seu circuito proporciona aos presentes as mais variadas emoções possíveis.
Em junho, comentava-se justamente o quanto o dólar havia caído da sua máxima no ano (R$ 5,7919), atingida em 3 de março. Agora, de maneira inversa, as atenções se direcionam à forte valorização da moeda nos últimos tempos, especialmente em agosto.
No pregão desta quinta-feira (19), o dólar subiu 0,87% e encerrou o dia cotado a R$ 5,4220. O avanço no mês já chega a 4,08%, e, no ano, está em 4,53% ante o real. E há fatores de sobra, tanto interna quanto externamente, que podem pressionar ainda mais o mercado de câmbio nos próximos pregões.
Cenário doméstico segue preocupando
Em primeiro lugar, o cenário fiscal do Brasil continua bastante debilitado. A saber, o presidente Jair Bolsonaro segue contribuindo com verdadeiro afinco para isso ao adotar uma verdadeira guinada populista. Muitos investidores temem que os gastos federais cresçam ainda mais nos próximos meses.
Para tentar aumentar seus votos para as eleições de 2022, Bolsonaro já entregou à Câmara dos Deputados uma Medida Provisória que eleva o valor médio pago pelo Bolsa Família em, pelo menos, 50%. No entanto, o financiamento do novo programa assistencial virá dos precatórios, que são as dívidas do Poder Público determinadas pela Justiça.
Para isso, a equipe econômica do governo também encaminhou à Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o parcelamento de dívidas com valores a partir de R$ 450 mil. Dessa forma, a PEC dos Precatórios geraria uma ‘economia’ ao governo de R$ 33,5 bilhões, valor utilizado para turbinar o novo Bolsa Família. O problema é que esse montante precisará ser pago no futuro, o que debilita ainda mais a saúde fiscal do país.
E não há como esquecer a inflação no país, que segue nas alturas. Para conter seu avanço, o Banco Central vem elevando a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, desde o início do ano. Em suma, uma Selic mais alta puxa consigo os juros praticados no país. Com isso, reduz o poder de compra do brasileiro, desaquecendo a economia e impedindo que os preços dos produtos e serviços continuem a subir.
Cenário externo fortalece ainda mais o dólar
Já no cenário externo, o maior temor global continua sendo a pandemia da Covid-19. Embora o avanço da vacinação nos países esteja reduzindo os casos e mortes, a variante Delta do novo coronavírus está fazendo justamente o contrário.
Em resumo, a Delta segue aumentando o número de casos e mortes em todo o planeta nas últimas semanas. A variante é 50% mais transmissível que a cepa responsável pela maioria dos casos no ano passado. E todo esse cenário aumenta as preocupações dos mercados sobre a recuperação econômica global.
Por fim, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, divulgou ontem (18) a ata da sua última reunião, que sinaliza para o fim dos estímulos praticados pelo banco na economia norte-americana bem antes do esperado. Isso contribui ainda mais para os investidores voltarem a comprar dólares e soltarem de vez o real.
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