O presidente brasileiro Jair Bolsonaro enfrenta uma crescente insatisfação do setor público com as medidas salariais e um risco crescente de greves que podem afetar o cenário político e econômico.
Em 2015, uma greve no setor público, incluindo funcionários da previdência social, atrasou o pagamento de pensões e provocou indignação entre os aposentados. Uma medida semelhante pode afetar os já baixos índices de aprovação de Bolsonaro, enquanto ele busca a reeleição nas eleições presidenciais de outubro.
Autoridades do banco central alertaram o governo ao realizar uma greve de duas horas nesta terça-feira (18/01).
Entenda o caso
Ao garantir que 1,9 bilhão de reais fossem redirecionados para a Polícia Federal no orçamento de 2022, o presidente Jair Bolsonaro agradou uma parcela significativa de seus eleitores, principalmente os 45 mil servidores públicos que compõem a organização.
Em contrapartida, o gesto provocou a ira de vários outros tipos de servidores, que também exigiram um reajuste. Desse modo, o presidente vetou aumentos salariais para todos os outros funcionários públicos, provocando a ira de muitos funcionários do setor público, incluindo funcionários do Banco Central e das autoridades fiscais.
Como resultado, o tratamento favorável de Bolsonaro à polícia federal é visto como um movimento para consolidar seu apoio eleitoral na força policial do país.
O que dizem funcionários federais
Conforme o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita (Sindifisco Nacional), Kleber Cabral, o acordo salarial mais recente da Receita Federal data de cinco anos, ajustado pela última vez em 2019. A autoridade também está sem concursos desde 2014.
Segundo Cabral “Ninguém é contra a valorização da carreira A ou B, mas cortar o recurso de funcionamento do órgão que arrecada para viabilizar o reajuste isoladamente de um outro cargo foi algo grave demais”.
Além disso, servidores de órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fundação Nacional do Índio (Funai), Agência Brasileira de Inteligência (Abin), também cobram reajustes.
Impactos
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) estima que as perdas de inflação para os servidores federais (acumuladas desde 2017, 80% dos servidores; desde 2019, para os demais) correram um quarto do poder aquisitivo dos salários.
Por conta disso, a entidade enviou dois ofícios ao ministro da Economia, Paulo Guedes, solicitando uma reunião para resolver a questão. Greves ou interrupções nas atividades de alguns funcionários do Banco Central e demais autoridades fiscais podem impactar negativamente o comércio internacional do país e a economia em geral, que já está em um caminho lento.
O comércio foi afetado à medida que os fiscais gradualmente começaram a limitar as tarefas do dia-a-dia que realizam, como uma tática para pressionar o governo sem ter que iniciar uma greve geral.
“Já estamos vendo um aumento no custo dos produtos importados, pois os navios que chegam ao Brasil têm que esperar mais tempo para que as mercadorias sejam inspecionadas e liberadas pelo fisco”, disse José Augusto de Castro, presidente da associação exportadora brasileira AEB.
Sendo assim, se a situação atual persistir por muito tempo, também afetará o setor exportador do país, pois muitos produtos têm prazos de validade e atrasos na liberação dos embarques, fazendo com que os compradores suspendam os contratos com os exportadores.